18.4.09

Corpo mole e corpo fechado

Longe de mim questionar o trabalho de Guus Hiddink nesta recente (e bem sucedida, até aqui) estadia no Chelsea. O técnico holandês – que também é tecnico da Rússia – sucedeu Felipão em fevereiro e vem fazendo o que o brasileiro só havia conseguido no começo da sua estadia de sete meses em Stamford Bridge: um time aguerrido e que se não joga com brilhantismo, sabe controlar e vencer as partidas. Apenas uma derrota e dois empates em 12 partidas e mais do que o excelente aproveitamento, o Chelsea de Hiddink consegue fazer o que o Chelsea de Felipão não fez e que causou sua queda: peitar as grandes equipes de igual para igual. Prova disso é a campanha dos Blues no mata-mata da Champions, onde derrubou Juventus e Liverpool sem ser derrotado (duas vitórias e dois empates).

Hiddink, que se notabilizou em levar times desconhecidos ou limitados tecnicamente ao topo – como o PSV campeão da Champions League em 1987/88 ou as seleções semifinalistas de Copas do Mundo com Holanda e Coréia do Sul, por exemplo – acertou a mão no Chelsea, principalmente por conta do “despertar” de alguns jogadores importantes do elenco. Didier Drogba – que iniciou a temporada se recuperando de contusões – não vinha bem e era reserva de Felipão, normalmente preterido por Anelka. O descontentamento do marfinense era visível e até era ventilada a sua venda na janela de transferências de janeiro. Motivado pelas chances dadas por Hiddink na equipe titular, o avante fez dez jogos desde a chegada do técnico holandês e anotou sete gols, contra apenas dois na era Felipão em 17 partidas. “A saída de Scolari fez uma grande diferença para mim e para a equipe. Foi a minha chance de demonstrar meu valor. Tenho minha energia de volta. Nos últimos dois meses, a minha vontade de jogar e de ganhar jogos tem sido muito grande”, afirmou o atacante a imprensa inglesa, segundo noticiou o Terra.

Caímos no velho questionamento: jogador derruba técnico? A declaração de Drogba deixa no ar que se não derruba diretamente, dá aquela forcinha. Além da melhora latente do marfinense, jogadores como Ballack e Malouda - constantemente utilizados por Felipão - também melhoraram sensivelmente suas atuações. Lampard é a exceção, pois o camisa oito vem jogando muito desde o começo da temporada, o que faz com que o meia seja o principal jogador da equipe até aqui. Favoritos de Felipão, como Anelka, Deco e Beletti perderam espaço com Hiddink, que utiliza constantemente jogadores como Malouda e Drogba, além de contar com Essien na lateral direita, já que o volante voltou recentemente após longo tempo contundido e é peça importante na equipe, seja qual for o técnico. O esquema de jogo dos dois técnicos é semelhante, sem mudanças bruscas no esquema tático.

Seja qual for o motivo, Felipão caiu por não conseguir deixar o elenco do Chelsea coeso, como ele fez em Portugal, na Seleção Brasileira, Grêmio e Palmeiras, a chamada "família Scolari". Normalmente, as radicais mudanças implantadas por ele foram respaldadas pelos bons resultados, o que não ocorreu no Chelsea, seja pelo comprometimento de alguns jogadores ou pelas muitas contusões que atingiram o elenco (na minha opinião, uma mescla dos dois). No entanto, a recuperação do Chelsea não passa apenas pela excelente assimilação da filosofia de Hiddink – que não fica no Chelsea para a próxima temporada – pelo elenco. A fogueira das vaidades nos Blues se amenizou e Hiddink soube administrar isso, para benefício mútuo. E o Chelsea, de quase desacreditado na virada do ano chega às semifinais da Champions em condições de peitar o poderoso Barcelona. E porque não, tombar mais um gigante em sua eterna busca pelos louros europeus, tão desejada por Abramovitch quando adquiriu a equipe. É palpável e possível.

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2 comentários:

Carlos Pizzatto - Blog do Carlão disse...

Drogba é um dos melhores centroavantes do mundo. Felipão pecou ao não ter conquistado a confiança do atacante.

Felipe Moraes disse...

Particularmente, sou fã do Hiddink. E, realmente, o Chelsea com ele no comando é outro time.

Abraço,
Felipe Moraes