6.1.11

A "Susan Boyle" dos Cavs

"Radio Man", ainda como um sem-teto: recomeço de vida como locutor do Cleveland Cavaliers, da NBA

No mesmo dia em que os líderes das Conferências Leste (Boston Celtics) e Oeste (San Antonio Spurs) iriam fazer seu confronto na NBA ou que Lebron James fez um trocadilho comparando as performances trio galáctico do Miami Heat (formado por ele, Dwyane Wade e Chris Bosh) com os Beatles, os "Heatles" – a equipe da Flórida acumula 19 vitória nos últimos 20 jogos – a notícia que mais repercutiu e chamou a atenção do basquete estadunidense estava fora das quadras e veio de Cleveland: os Cavaliers contrataram um sem-teto de 53 anos para ser locutor na Quicken Loans Arena, casa da equipe de Ohio, além de emprestar sua voz para futuros comerciais da equipe. A imprensa local logo o comparou com a cantora britânica Susan Boyle, que fez uma audição para um programa de calouros em seu país, virou hit na internet e alcançou o estrelato estritamente pelo seu talento, não por meio de dotes físicos ou padrões de beleza.

O novo empregado dos Cavs em questão é Ted Williams, um velho do Brooklin que vagava pelas ruas da cidade de Columbus. Os problemas com drogas e álcool fizeram com que perdesse tudo o que tinha, tornando-se um mendigo conhecido pela capital do Estado de Ohio. Tanto que era apelidado de Radio Man, dado o timbre impressionante de sua voz. Com quase 14 folhas de antecedentes criminais que incluíam roubo, assalto e posse de drogas, a vida de Williams mudou graças a uma reportagem feita pelo jornal “The Columbus Dispatch”, que contava sua história de vida e a fama local do mendigo-locutor com voz de ouro. Então, os jornalistas resolveram gravar um vídeo com Williams, onde ele resumia sua vida e falava das dificuldades que havia passado. Mas que estava limpo há dois anos. Em apenas dois dias, o vídeo virou hit no Youtube (abaixo), acessado por mais de 11 milhões de vezes (até o momento em que este post era redigido).



O talento do sem-teto foi visto pelos cartolas da equipe de basquete, que logo ofereceram a ele o trabalho de locutor e uma casa, próxima a arena dos Cavaliers. "Os Cleveland Cavaliers ofereceram-me um trabalho a tempo inteiro e uma casa! Uma casa! Uma casa!", disse um incrédulo Ted, em um programa de rádio local. E não foram só os Cavs que lhe ofereceram um trabalho. A MTV, um produtor de filmes para a NFL, um programa de talentos e até produtores ligados aos Simpsons tentaram contatá-lo. A história e o desfecho feliz para o locutor – que havia sido detido pela última vez em maio de 2010 –, obviamente, ganharam a imprensa esportiva do mundo.

A ação de marketing do clube, diante da enorme repercussão, foi rápida: no primeiro quarto do jogo desta quarta diante do Toronto Raptors, do brasileiro Leandrinho, a foto do novo funcionário dos Cavs apareceu na quadra e logo depois, um site criado para ele recebia mensagens de parabenização e incentivos, em tempo real.

Mesmo não sendo um esportista propriamente dito, é o segundo grande exemplo de reintegração de um ex-detento que tem uma chance de ouro para se reintegrar à sociedade por meio do esporte no país. O outro, muito mais alardeado pela performance na NFL, é o quarterback Michael Vick, do Philadelphia Eagles. De grande estrela e jogador mais pago da liga, em 2005, até a prisão por 18 meses, entre 2007 a 2009, pela promoção de rinha entre cães. Falido e sem ninguém para contratá-lo, acabou nos Eagles ganhando apenas o salário piso da liga. Mas uma série de fatores o colocou novamente como o principal quarterback da equipe e ele brilhou como um dos principais protagonistas do torneio, em sua temporada regular.

Em um país de sistema carcerário falido como é o Brasil, onde é urgente uma reestruturação completa, o esporte não poderia ser usado como uma das ferramentas para a reintegração – aquela sem o alarde da imprensa, conquistada pelos méritos – de detentos à sociedade?

Um comentário:

Editor disse...

Uma história e tanto hein André. Assisti ao globo esporte hoje e vi isso, mas como não tinha áudio não soube do que se tratava. Um personagem que rendeu boa história e mudou de vida. Que faro dos jornalistas.

Abs