20.5.10

Brasil na Copa: Favorito em campo, azarão nas propagandas

Com todas as contestações que possam existir quanto a lista de convocados por Dunga para a Seleção que disputará a Copa da África do Sul, o histórico e os resultados do técnico na equipe atestam: o Brasil entra como um grandes favoritos ao título – como já manifestei aqui, ao lado de Espanha e Inglaterra.

Contudo, se a tradição e os resultados recentes mostram o quanto o Brasil é temido em campo, em outra área que diz respeito ao Mundial de 2010, o país do futebol está sendo azarão e sofre uma verdadeira goleada: as propagandas de TV para a Copa.

Como não sou formado em Publicidade e Progandanda e tenho vagas idéias sobre marketing, não esperem análises baseadas em teorias e pilares deste segmento. São impressões. E as propagandas brasileiras para esta Copa, salvo raríssimas exceções, caem nos clichês e são pouco originais. Lembrando que sim, sei que o Brasil é respeitadíssimo no assunto, possui agências tradicionais que são referência quando falamos sobre propagandas de TV e que já ganharam inúmeros prêmios no exterior – fato que acentua minha decepção com as campanhas veiculadas até aqui sobre Copa, Brasil e futebol.

As da Brahma – patrocinadora oficial da Seleção e da própria Copa – chegam a desafiar a inteligência do telespectador/consumidor. “O Brasil contra o resto” (foto acima), que estrela Luís Fabiano, “Lista de Pedidos”, a “Seleção de Guerreiros” e "Poucas Palavras"- as duas últimas tem Dunga como maior expoente - são exemplos disso. A segunda citada tem inspiração direta de “Benditos”, da cerveja argentina Quilmes, muito elogiada no último Mundial. No entanto, a peça brasileira cai no erro de exaltar primeiro a marca (brahmeiros) e depois a Seleção, ao contrário da propaganda dos hermanos, que ainda tem texto e edição de imagens impecáveis e atinge o espectador pelo mote da emoção – não a artificialidade, que transparece na voz de Dunga –, mas baseadas em fatos reais e bem explorados.

Como contraponto, cito o comercial da própria Quilmes – que patrocina a seleção argentina – para 2010. Evoca Deus, feitos e a paixão argentina na Copa, citando o nome da cerveja apenas no fim da propaganda. Nada de “somos guerreiros ou quilmeiros”. Um papo franco da entidade divina com os hinchas da albiceleste, numa abordagem diferente, mas que não falha em fixar a marca ao telespectador.



Outro clichê muito visto nos comerciais das grandes marcas é a de ridicularizar os argentinos. Ambos da Skol, da mesma Imbev, o fato dos argentinos “torcerem redondo” e virarem brasileiros por tomarem a tal cerveja chega a soar ridículo, assim como as latinhas falantes. A bola dentro (única que vi até aqui) foi da Seara, que recentemente passou a patrocinar o escrete canarinho. Usou a irreverência dos Meninos da Vila e suas danças de comemoração de gols para parodiar com o famoso clipe de Beyoncé, “All the single ladies”. Ou na famosa promoção das "Camisas Campeãs" do Guaraná Antarctica (também patrocina a Seleção atualmente), que mostra com criatividade que "todo mundo" quer um das camisas do Brasil pentacampeão mundial.



Enquanto isso, alguns comerciais gringos primam pela irreverência. Enquanto a Directv recruta as “velhas” estrelas sul-americanas, como Batistuta, Valderrama, Zamorano, Aguinaga, Cubillas e Dudamel para um asilo, a TyC (Torneos y Competências) apela para o lado cultural de se torcer e jogar na Argentina. E sucedendo o elogiadíssimo “Benditos”, da Quilmes, "Argentinos" é um dos spots mais (bem) comentados da internet, através de blogs, twitter e afins.



O irreverente jornal Olé já mostrou, em 2007, como se parodiar os brasileiros em "Soy brasileiro". Mas na contramão da Skol, que tenta ridicularizar os vizinhos, o principal jornal de esportes dos hermanos faz a referência, com bastante humor e sem ridicularizar símbolos brasileiros presentes na propaganda como o Cristo Redentor, as bebidas, a capoeira e o futebol pentacampeão. Assim como o Guaraná Antarctica fez, ao mostrar Maradona "sonhando" em vestir a camisa do Brasil.

Já a MTN, uma empresa sul-africana de telecomunicações de telefonia, se utiliza do mote da rivalidade Inglaterra-Alemanha para arrancar risos. Valorizando a cultura africana, a Pepsi recruta seus astros, como Messi, Drogba e Lampard, além do cantor Akon em "Oh, Africa".



Mesmo sem o brilhantismo o da excelente campanha Jose+10, da Adidas, a Nike mantém o padrão de seus excelentes spots e convida seus patrocinados a reescrever o futuro. Nesta campanha, onde as histórias se interligam, Cristiano Ronaldo aparece como superstar, Rooney remoe (e tenta mudar) uma fictícia derrota para França de Ribéry, aparecendo gordo e barbudo, além de Ronaldinho, que transforma suas peripécias em campo em um DVD "Como sambar com Ronaldinho" no melhor estilo 011-1406 (só lembra desse número quem tem mais de 25 anos). Alie a essas estrelas todas, uma boa história e participações pontuais de Roger Federer, Homer Simpson, Kobe Bryant, Gael García Bernal, Drogba, Cannavaro e Thiago Silva. Enquanto isso, argentinos como Tevez, Agüero, Mascherano e Romero jogando uma partida na famosa Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, sede do Governo.



Uma Copa com o ineditismo de ser sediada no continente africano deveria ser fonte de inspiração aos publicitários que fazem chamadas para a TV. Mas a menos de um mês para a Copa, o Brasil está muito atrás de seus adversários. E sem esperanças de reverter o cenário. Quem sabe um Mundial em solo tupiniquim após 64 anos volte a inspirar os nossos renomados profissionais.

*Texto inspirado nos posts dos blogs Deixa de Nerdice, Esporte Fino, Flávio Gomes e O Certame.

6 comentários:

Pedro Leonardo disse...

As publicidades brasileiras abusam da histeria, da repetição, do convencimento pela irritação proporcionada(vide Casas Bahia). As publicidades argentinas exploram menos o produto em si, mas utilizam melhor as idéias nos seus anúncios.

Uma das melhores propagandas em TV que eu vi na vida foi uma peça argentina, premiada na época, era de uma bebida que não me recordo o nome, sobre uma mulher que, num ataque histérico, dizia ao seu namorado que ele só a admirava pela aparência e beleza, e ela se livrava de suas lentes de contato, apliques no cabelo, unhas postiças etc. E após a garota descarregar sua fúria, o namorado, inusitadamente, tira a própria peruca, revelando a careca, e no final terminavam juntos. Era excelente. Putz, mas que bebida era aquela?

Blog do Carlão - Futebol é nossa área disse...

Bacana a da Quilmes.

Persio Presotto disse...

muito bom, andré! parabéns! abs, pp

Editor disse...

O assunto rende boas conversas, postei sobre isso no meu blog há 20 dias.

http://blogdolucizano.blogspot.com/2010/04/copa-da-publicidade.html

Jefferson Pacaembu disse...

òtimo post.
Acho que ta faltando algo mais engraçado para as propagandas brasileiras nessa copa... apesar de que gostei dos da Skol...

Felipe Brisolla disse...

As das Skol apesar de só falar da Argentina, são criativas. O problema é a Brahma. Como patrocinador oficial da copa e da seleção eles aproveitam muito pouco o material que têm a disposição. E fora que apostar no Dunga como garoto propaganda é uma decisão bem questinável...