28.8.10

O Robben que não deu certo

Originalmente redigido para o Olheiros

Para vencer no futebol, são necessárias uma série de probabilidades. Ter técnica, passar por uma boa formação na base e estar na hora certa e no lugar certo são algumas delas. O holandês Jordi Hoogstrate tinha tudo para estourar, assim como seu parceiro de base, Arjen Robben – recentemente, vice-campeão da Liga dos Campeões e da Copa do Mundo – que já passou por grandes clubes, como Chelsea, Real Madrid e Bayern de Munique.

Porém, seguidas contusões no joelho e diversos problemas de ordem psicológica abreviaram a breve carreira deste meio-campista com apenas 25 anos de idade. Mesmo com toda a dor que o futebol lhe causou, a paixão pelo esporte falou mais alto: Hoogstrate se tornou treinador das categorias de base do Groningen, time de sua cidade natal e que o revelou.

Parceria de sucesso

Hoogstrate iniciou sua carreira em clubes menores da região onde nasceu, como o LTC Assen e o Annen. Depois, rumou para o próprio Groningen, clube que já revelou talentos do quilate dos irmãos Erwin e Ronald Koeman, além de Arjen Robben. Definitivamente, uma porta de entrada para jogadores que iniciam sua carreira no continente europeu. O uruguaio Luis Suárez, que fez sucesso na última Copa do Mundo, é o exemplo mais recente disso.

Robben e Hoogstrate subiram juntos para a equipe profissional, com o hoje jogador do Bayern sendo apenas seis meses mais jovem que o colega. A dupla logo se destacou na temporada 2000/01, na qual Hoogstrate fez sua estreia em março, em um jogo da Eredivisie diante do NEC Nijmegen. O primeiro gol viria apenas na temporada seguinte, em dezembro, diante do FC Utrecht.

Apesar da temporada irregular de sua equipe, Hoogstrate e Robben logo chamaram a atenção dos grandes clubes do país. Os torcedores do clube os elegeram como os jogadores do ano. Ironicamente, seria a melhor e mais consistente temporada do hoje eterna promessa, que realizou 24 jogos e marcou dois gols (os únicos durante sua carreira na liga holandesa).

E como siameses, ambos foram vendidos para o poderoso PSV Eindhoven por cerca de 7 milhões de euros. A chegada nos Boeren dariam guinadas direcionalmente opostas em suas carreiras. Robben arrebentou e logo foi vendido por cifras estratosféricas ao milionário Chelsea. Já Hoogstrate não aguentou o tranco de estar em uma equipe grande. Problemas psicológicos fizeram com que ele só atuasse em cinco partidas."Por causa de todos os reveses, a doença e as lesões que ele ficou um pouco deprimido", disse à época o treinador. A declaração confirma que os problemas tiveram início ainda em seu clube formador.

Corpo e cabeça padecem

Em 2004/05, se cogitou que Hoogstrate iria encerrar a carreira por conta de tais problemas, mas o PSV interferiu na decisão e tentou ajudá-lo na recuperação da enfermidade. O talentoso holandês não entrou em campo oficialmente uma vez sequer naquela temporada. Com isso, a equipe de Eindhoven resolveu emprestá-lo para o FC Emmen, a fim de lhe dar confiança e experiência. Mas para infelicidade do atleta, houve uma grave contusão no joelho durante a pré-temporada pela nova equipe. Assim, ele acabou completando a segunda temporada consecutiva sem entrar em campo.

De volta ao Emmen, na temporada seguinte, Hoogstrate conseguiu realizar apenas cinco partidas, parando com a bola por conta do agravamento da velha lesão. No retorno ao PSV, ele começa a desenvolver outras atividades relativas ao futebol, sem propriamente ser um atleta. Primeiro, como massagista, e depois se interessando em ser treinador - com apenas 24 anos da idade. Infeliz no PSV, o ex-jogador resolveu testar suas novas aspirações no Groningen, que prontamente lhe deu o cargo de treinador das categorias de base.

A última cartada de Hoogstrate como jogador profissional aconteceu em 2008, quando se preparava para voltar à vida de atleta. Contudo, como em um enredo macabro, seu corpo não aguentara o forte ritmo de um profissional. Resultado: nova lesão no joelho e o anúncio da precoce aposentadoria como jogador, em março de 2009. Atualmente, voltou a dedicar-se à vida de treinador de futebol no Groningen.

Breve passagem pela Oranje

Apesar da carreira breve, Hoogstrate atuou ao lado da geração que recentemente sagrou-se vice-campeã mundial na África do Sul. Na época da entressafra de jogadores – depois do bom time que chegou às semifinais da Copa de 1998, a equipe não se classificou para o torneio seguinte – o meia foi testado, assim como Robben. Jogou a fase eliminatória do Europeu Sub-19, em 2001, e do Sub-21, em 2003. Fazia parte da equipe considerada olímpica, que ficou de fora dos Jogos de 2004, em Atenas. Atuou ao lado de companheiros como Stekelenburg, Van Persie, Sneijder e De Jong, por exemplo.

O futebol dá muitas voltas. Mas se a carreira de Hoogstrate seguisse o curso considerado “natural”, não seria nenhum absurdo pensar que ele poderia ter feito parte da seleção holandesa que esteve no continente africano para a última Copa. Talento para tal, ele mostrou tanto quanto Robben, que ironicamente, também sofreu por um bom tempo no Chelsea e no Real Madrid com diversas contusões – nada comparáveis ao de seu velho colega, obviamente. Nesse quesito, podemos dizer que o camisa 11 da Holanda foi mais afortunado que o colega Hoogstrate.

Um comentário:

Lara Monsores disse...

caramba, André, que história triste. Futebol é meio cruel né, imagine o sentimento de impotência desse cara, querer e não poder fazer o que mais gosta....essa fragilidade toda do Hoogstrate me fez lembrar do Pedrinho, ex-Vasco, que tb sofreu muuuito com lesões e era talentosíssimo!
triste história, mas uma boa história! Parabéns!

j