16.4.10

Chicharito em Manchester

*Texto redigido originalmente para o Olheiros

Hernández é a nova aposta do Manchester United para a próxima temporada

Cesare e Paolo Maldini; Pablo e Diego Forlán; Domingos e Ademir da Guia; Jean e Youri Djorkaeff; Miguel e Xabi Alonso. Em comum, alguns exemplos de pai e filho que tiveram o privilégio de defender suas seleções em uma Copa do Mundo. E o Mundial da África do Sul deve proporcionar o prologamento de outro legado familiar ainda maior: Javier "Chicharito" Hernández Balcázar, atacante transferido recentemente ao Manchester United junto ao Chivas Guadalajara, pode repetir o feito de seu avô, Tomás Balcázar, e pai, Javier “Chicarro” Hernández, que estiveram no elenco do México nas Copas de 1954 e 1986, respectivamente.

O pai de Chicarito foi colega de elenco do atual comandante da seleção Tricolor, o então meio-campista Javier Aguirre. E o habilidoso atacante do Chivas pode repetir o feito de seu avô – e que seu pai não conseguiu: marcar numa partida de Copa do Mundo.

O lobby pela ida ao atacante - que completará 22 anos pouco antes da Copa - à África do Sul é tanto, que no país, a onda entre torcedores e imprensa é a “Chicaromania”. Uma grande responsabilidade para o jovem avante, que só foi convocado quatro vezes para a seleção, mas correspondeu com quatro gols. A ida ao futebol inglês na próxima temporada deve dar mais experiência para que o mexicano possa desenvolver toda a sua técnica e habilidade, numa equipe que carece de opções de qualidade para substituir Rooney, atuamente gozando de ótima fase.

Três gerações de gols

Neto de Tomás Balcázar – lenda do ataque do Chivas entre o final de 1940 e quase toda a década de 50 – e filho de Chicarro Hernández - que além da Copa de 1986, jogou o Mundial Sub-20 de 1979 e acumulou passagens por Tecos, Morélia e Puebla - Javier Hernández tem o sangue chiverrío correndo em suas veias desde cedo, já que é natural de Guadalajara e chegou ao clube com apenas 9 anos. A baixa estatura para um centroavante (tem 1,73 m) logo fez com que herdasse o apelido do pai (em espanhol, Chicharito é algo como ervilhazinha).

Acompanhado com muita expectativa desde seus primeiros chutes nas categorias de base, fez a melhor estreia possível pela equipe profissional: aos 18 anos, marcou seu primeiro gol oficial na goleada contra o Necaxa, em setembro de 2006. Pé quente, conquistaria com o Chivas o Apertura daquela temporada, coincidentemente, o último título nacional do clube de Guadalajara.

Apesar do começo promissor e do potencial notável, seria difícil para o novato dividir o espaço no clube com jogadores famosos no futebol mexicano como Omar Bravo, Alberto Medina e Adolfo Bautista, por exemplo. Por isso, Hernández seria pouco utilizado nos dois anos seguintes – apenas nove vezes. Jogaria regularmente a partir do Clausura 2009, para não sair mais do time e depois, parte de La Tri.

Após quase três anos do gol de estreia, Hernández voltou a marcar no Clausura 2009 (terminou com cinco gols), além de boas performances na Libertadores de 2009, onde marcou três gols na fase de grupos. Só não pôde mostrar mais por conta da confusa saída dos mexicanos do torneio continental, já que seus adversários nas oitavas recusavam-se a disputar jogos fora de casa por conta do surto de gripe suína que atingia o México. Com a recusa dos clubes de mandar os jogos fora do país ou de fazer apenas uma partida na casa dos adversários, a Federação Mexicana anunciou a retirada das equipes, que vão entrar direto nas oitavas de final na edição 2010 do torneio.

No Apertura de 2009, Hernández já figurava como principal jogador da equipe. Mesmo com o Chivas fora da Liguilla (a fase final do Mexicano, disputado no sistema mata-mata), o jovem atacante ficou no terceiro posto na tabela de artilheiros do torneio, com 11 gols, ratificando sua condição entre os bons atacantes em atividade no futebol local, como Emanuel Villa (Cruz Azul), Salvador Cabañas (Américas), Humberto Suazo (Monterrey) e Hector Mancilla (Toluca). E as boas performances no campeonato nacional lhe valeriam um posto no México de Javier Aguirre, que ainda procurava experimentar no ataque, que tinha jogadores como o experiente Blanco e o promissor Vela, por exemplo.

Ascensão meteórica de Chicharito na seleção

A primeira convocação à seleção principal veio em setembro de 2009, na derrota por 2 a 1 para a Colômbia, onde o debutante passou em branco. Algo que não se repetiria nas três partidas seguintes, contra Bolívia, Nova Zelândia e Coreia do Norte, quando Hernández anotou quatro gols, dando nova opção ao técnico Aguirre em montar o ataque da equipe. Com mais sete amistosos até a abertura da Copa, contra os anfitriões, não parece que a boa fase do jovem atacante do Chivas seja deixada de lado. A imprensa mexicana dá como certa a ide de Hernández à África do Sul.

Porém, a trajetória do atacante com a camisa do México começou durante o Mundial Sub-20 do Canadá, em 2007. Apesar de não ser titular absoluto daquela equipe, marcou um gol no torneio, contra Gâmbia. O México, que cairia nas quartas de final para a campeã Argentina, tinha jogadores como Giovani dos Santos, Carlos Vela e Pablo Barrera, que provavelmente estarão no elenco pra a Copa de 2010, mostrando a força das categorias jovens do futebol mexicano, em franca evolução.

Mais afiado em 2010

Na disputa do Clausura 2010, o Chivas realiza boa campanha e é um dos favoritos ao título. Em parte, graças ao faro de gol de Hernández, que até o fechamento deste texto, em 29 de março, liderava a artilharia do torneio, com 10 gols em 11 jogos. O jovem bateu recorde do futebol local, ao anotar oito gols nos primeiros cinco jogos do campeonato, deixando para trás jogadores consagrados do passado e presente do futebol mexicano, como Carlos Hermosillo, Ricardo Pelaez, Luís Garcia e Cuauhtémoc Blanco.

A evolução franca de Chicharito o credencia como um dos jovens jogadores que podem aparecer como revelações na próxima Copa, fato atentado por reportagem no próprio site da Fifa. "É uma meta que está aí e sonhar não custa nada, por isso, quero manter a calma. Esta é uma boa oportunidade, é preciso aproveitá-la e trabalhar muito duro", disse o atacante, em entrevista.

Aguirre não deve deixar de fora um jogador com características tão particulares, como a rapidez, o faro de gol e o bom posicionamento na área, apesar da baixa estatura e do porte físico frágil. E se realmente for à Copa com o México, a família de Chicarito completará três gerações em campo com a camisa mexicana, feito notável em se tratando de um torneio no qual é tão difícil estar presente.

Um comentário:

Gerson Sicca disse...

Isso realmente é um privilégio. Imagina uma família ter 3 gerações que participaram de uma Copa. Sensacional.
E valeu pelo parabéns!
Abraço!