18.5.11

Os bons, os maus e os vencedores

Juliano Haus Belletti é um cara de sorte. Sorte porque é um jogador que realizou o sonho de muitos de nós que adoramos o futebol quando pequenos – bons, medianos e ruins –, que é vencer na vida com a bola nos pés. Volante de origem, foi convocado muito cedo por Zagallo para a seleção brasileira, em 1995. Envolvido em um troca com o São Paulo, ficou conhecido pela versatilidade no clube do Morumbi. Ainda assim, esteve longe de ser um ídolo ou um protagonista por lá, como o seu parceiro Serginho (jogador que também foi envolvido com o Cruzeiro na troca com o Tricolor). Acabaria marcado, como muitos da sua geração, naquele time que chegava em quase todas as decisões, mas não engrenava.

Longe de ser um primor técnico, Belletti viveria seu momento como protagonista fora de sua posição. E jogando bem. Com a camisa 10 e atuando como um autêntico armador, foi um dos destaques do Atlético-MG vice-campeão brasileiro de 1999, que acabaria derrotado pelo Corinthians na final. Inclusive, esteve na seleção da Revista Placar daquela temporada e levou a tradicional Bola de Prata, tal foi seu bom futebol.

Após o retorno para o São Paulo, acabou no Villarreal, em 2002. Já como um lateral aplicado acabou, esteve por dois anos no crescente Submarino Amarillo e foi contratado para o Barcelona de Ronaldinho, Deco, Xavi, Puyol e companhia. Seguia alternando entre a titularidade e o banco, mas converteu-se em uma peça útil no esquema de Frank Rijkaard, revezando posição com Oleguer.

Depois da titularidade e da 10 do Galo, a simplicidade e a discrição da 2 do Barça. Jogador avesso a polêmicas e preferido dos técnicos pelo empenho nos treinos, estava sempre pronto a ajudar. E no Stade de France, em Paris – mesmo local que negou o protagonismo para Ronaldo Fenômeno, na final da Copa do Mundo da França, em 1998 – concedeu ao polivalente lateral um lugar cativo na história do Barcelona, um dos maiores clubes do planeta. A final da Champions League de 2005/06, contra o ótimo Arsenal dirigido por Arsène Wenger, era dura. Mesmo com os ingleses com um atleta a menos (Lehmann foi expulso por falta em Eto'o), a peleja estava igual por um gol. Aos 26 minutos da etapa final, ele estava em campo. Dez minutos depois, a batida forte e que tocou no arqueiro reserva Almunia e entrou no gol o elevou a condição de herói catalão para a eternidade. Em meio aos talentosos blaugranas e com direito a um mágico Ronaldinho no auge de sua forma física e técnica, coube a um "operário da bola" devolver o Barça ao topo da Europa, após 14 anos fora dos holofotes continentais.

Cinco anos após o feito histórico do dia 17 de maio de 2006, Belletti ainda é ovacionado pelo seu ex-clube, como deveria ser com os ídolos nacionais. "A lateral direita é uma posição em que o jogador se sacrifica, não aparece muito, não faz muitos gols mas, por causa desse gol, serei sempre lembrado e estou na história do Barça", disse o jogador ao Globoesporte.com. Além do gol histórico, a imagem marcante daquela decisão é a do lateral caminhando pelo campo vazio, poucas horas após o título. Momento de saber o que ele era e o que ele havia se tornado pelo feito que acabara de proporcionar.

Aos 34 anos e recentemente dispensado do Fluminense – após período consistente, mas longe do protagonismo no Chelsea(2007-2010) –, o jogador ainda esta à procura de um clube. Independente de seu destino, ele sabe que os deuses do futebol não reservam os louros somente aos craques. O esforço dos mortais também tem sua compensação. E Belletti é a prova cabal disso.

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