20.5.11

Boas novas

Velho Porto ganhou sangue novo pelas mãos de André Villas-Boas: campeão nacional invicto e da Europa League

A idade pode enganar aos que não acompanharam sua trajetória na última temporada e meia. Em 13 de outubro de 2010, o técnico André Villas-Boas, 33 anos, tinha a missão de salvar a modesta Acadêmica de Coimbra da última posição da Liga Sagres – a equipe terminara o torneio nacional em 11º. Sete meses depois, ele assombra a Europa ao conquistar três títulos (Supertaça de Portugal, Campeonato Português, de forma invicta, e a Europa League) depois de reconstruir o Porto, terceiro colocado do nacional em 2009/10 e relegado à competição secundária europeia, enquanto Benfica e Braga foram à Champions.

Uma realidade entre os técnicos da nova safra, Villas-Boas é chamado de "novo Mourinho". É ainda mais que isso. O próprio já declarou ter as características de Bobby Robson, com os ensinamentos e táticas do mentor Mourinho e com a mentalidade de jogo mais semelhante à Guardiola, do Barcelona. Mesmo com a debilidade do Campeonato Português ou com uma secundária Europa League, o novo comandante tem números impressionantes nesta temporada: perdeu apenas quatro jogos dos 57 em que comandou os Dragões (com cinco empates), com 144 gols marcados e apenas 38 sofridos. Na liga lusitana, foram 21 pontos à frente do Benfica, campeão da temporada passada. E o Porto tinha praticamente o mesmo time que fracassou nas mãos do treinador anterior, Jesualdo Ferreira. Capitaneada pelo goleiro brasileiro Hélton, a defesa é consistente. O ataque, municiado pelo jovem Guarín e o regular João Moutinho, tinha o tridente Cristian Rodríguez-Falcao-Hulk, que desandou a fazer gols. A mudança, acima de tudo, foi de mentalidade.

Oriundo de uma família nobre em Portugal – Luís André Pina Cabral Villas-Boas é bisneto de José Gerardo Coelho Vieira Pinto do Vale Peixoto de Villas-Boas, o primeiro visconde de Guilhomil, título dado pelo rei D. Carlos I, em 1890 – engana-se que tal condição foi primordial para que ele galgasse seus primeiros degraus no futebol. Mas certamente, o destino estendeu sua mão, tal como sempre faz aos que se esforçam e são competentes.

Com avó de ascendência inglesa, já dominava o idioma aos 16 anos, época em que morava no mesmo prédio que Bobby Robson, então técnico do Porto, em 1994. Inconformado por ver seu ídolo, o atacante Domingos Paciência (263 jogos e 106 gols pelo clube, entre 1987-1997 e 1999-2001) fora da equipe, o jovem André não se limitou a "cornetar" o inglês, como a maioria da torcida e imprensa faria, após encontrá-lo no elevador e interpelar: "Mister, porque não joga Domingos?". Ele escreveu uma carta e a postou na caixa de correio do treinador e provou, por meio de estatísticas e argumentos, como usar o avante com maior eficiência em campo. Robson se impressionou e logo incumbiu o garoto de levantar estatísticas dos futuros adversários portistas para ele. Era o pontapé inicial.

Com Robson e o então auxiliar Mourinho, Villas-Boas ganhou o incentivo para aprimorar suas aptidões em um curso para técnicos na Inglaterra e outro com a chancela da Uefa. Tudo isso com apenas 17 anos. Sua primeira chance como técnico veio aos 21, quando treinou a seleção nacional das Ilhas Virgens Britânicas por 18 meses, até ser demitido após derrota acachapante para Tonga, por 9 a 0. Ele só revelou sua idade aos cartolas da equipe da Oceania quando foi embora.

De volta a Portugal, passou a treinar as categorias de base do Porto até a chegada de Mourinho, já como tecnico principal da equipe, em 2002. Reconhecendo o talentoso pupilo no retorno ao país, logo o alçou a auxiliar técnico e o incumbiu de ser seus "olhos e ouvidos". André analisava minúcias dos rivais portistas e sugeria contratações. Com Mourinho, foi campeão da Champions League 2003/04 pelo clube lusitano. "Fiel escudeiro", rumou com o segundo mentor para o Chelsea e a Inter, de onde saiu antes do título europeu de 2009/10 para assumir o desafio da então lanterna Acadêmica.

"Tenho mais de Robson do que de Mourinho. Tenho descendência inglesa e gosto de beber vinho. Se fala com frequência da minha juventude e a única forma de calar as críticas é conseguindo muitas vitórias", declarou o consciente Villas-Boas ao site espanhol La Vanguardia. E, por ora, o técnico conseguiu o título europeu ao Porto, além da conquista da Liga Sagres de forma invicta, fato que não acontecia há 39 anos, desde o Benfica de 1972/73. Parece que o Porto já ficou pequeno demais para este "aristocrata" do banco de reservas.

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