5.4.11

Napoli e a química latina

Há 21 anos atrás, uma certa dupla sul-americana formada por Diego Maradona e Careca seria primordial para o bicampeonato do Calcio ao Napoli (já haviam sido importantes na conquista da Copa da Uefa, uma temporada antes). Depois da era dourada, o clube foi descendo às trevas gradualmente. Veio a bancarrota, em 2004 e teve de recomeçar na terceira divisão do futebol italiano. Promovido de volta à elite, em 2006/07, os Partenopei vivem uma verdadeira epopeia sul-americana novamente (guardadas as devidas proporções): o argentino Lavezzi e o uruguaio Cavani são duas importantes para a equipe, que está apenas a três pontos do líder Milan.

A virada heróica sobre a Lazio na última rodada é só mais um elemento que inflama os napolitanos, fervorosos amantes do futebol. Só que os tifosi de lá usam o Napoli para reverter uma desigualdade social em pleno país da bota: a discriminação das cidades do norte, as mais ricas do país, para com as do sul, onde se localiza a cidade de Nápoles. Tanto que a equipe é a única da região sul a ser campeã italiana na história. A primeira era dourada externou toda a mágoa com tal preconceito, transformando-a em devoção para com Maradona. E por lá, o camisa 10 (aposentada pelo clube) é divinamente venerado. Tanto quanto na Argentina. A passagem de ambos (o grande carregador de piano daquela equipe era o volante brasileiro Alemão) lhes garantiu um lugar na história: El Pibe e o matador brasileiro figuram como terceiro e quarto na artilharia histórica do clube, respectivamente.

O cenário é parecido para o time atual, que tem Cavani como o grande expoente deste renascimento. A temporada fantástica fez com que o camisa sete celeste quebrasse um recorde de longa data: o de maior artilheiro da equipe numa só edição da Serie A, com 25 gols até aqui. O recorde anterior datava de 1933, com o húngaro Antonio Vojak, com 22 gols. Rei das assistências (11), Lavezzi é coadjuvante fundamental, ao lado do eslovaco Hamsik, do volante uruguaio Gargano e do competente goleiro italiano Morgan De Sanctis. A tabela, contudo, não favorece o Napoli na briga pelo scudetto: nas últimas sete partidas, encara a Udinese (que também briga por vaga na Champions League), além das tradicionais Inter e Juventus nas últimas rodadas. O Milan pega a equipe de Udine na última rodada, enquanto terá apenas a instável Roma como maior pedreira nas rodadas finais.

Sob a batuta de Walter Mazzari, cobiçado pela Juventus, a torcida novamente vê um time à altura de sua paixão pelo futebol. Como uma das formas de tentar mostrar a voz sulista, tão dissonante da parte rica da Itália. Há um quê de analogia com o Nordeste brasileiro, submisso economicamente ao eixo sul-sudeste, o que se reflete no futebol tupiniquim: apenas Bahia (duas vezes, numa delas, com a polêmica da Taça Brasil de 1959) e Sport (no polêmico título de 1987 dividido com o Flamengo).

Um comentário:

Editor disse...

O Milan está com as mãos na taça, mas como é bom ver Napoli, Udinese e até a Lazio lá em cima. Por mais que seja possível, não acredito no título.

Abs