14.7.11

Vinotinto, safra 2014


Certa feita, o amigo Thiago Barretos – um dos idealizadores deste blog – disse que a Venezuela poderia brigar por uma vaga na Copa de 2014. Absolutamente todos nós, inclusive este que escreve estas linhas, emitimos opinião veementemente contra. Claro que o tema é oportunista, dado o heróico empate diante do Paraguai por 3-3, nos últimos sete minutos de jogo. Mas a seleção Vinotinto, saco de pancadas histórico na América do Sul, já deixa participantes de Copas como Bolívia e Peru para trás. E com uma vaga a mais, decorrente da classificação do Brasil como país-sede do Mundial de 2014, a América do Sul ainda terá as 4,5 vagas (a quinta, em repescagem) habituais. E a Venezuela hoje é forte candidata a sonhar com o jogo extra que a levaria primeira Copa de sua história.

Desde que recebeu a edição anterior à esta Copa América, em 2007 – com fortes investimentos estruturais feitos por Hugo Chávez, assim como acontece atualmente com Pastor Maldonado, na Fórmula 1, bancada pelo líder do país e a poderosa petroleira PDVSA –, a seleção acentuou seu papel no futebol sul-americano. Única seleção filiada à Conmebol que nunca se classificou a um Mundial, até o ano 2000, a Venezuela só havia vencido duas partidas na história das Eliminatórias: em 1981, contra a Bolívia, e em 1993, contra o Equador. No qualificatório para a Copa da Coreia do Sul e Japão, não foi a última colocada do torneio pela primeira vez (terminou em nono). Na edição seguinte, subiria mais uma posição.

Depois da Copa América em casa – onde se qualificou no primeiro posto (o grupo tinha Peru, Uruguai e Bolívia) e acabou eliminada após goleada da Celeste, nas quartas – a equipe passou por um gradual processo de renovação. Nas Eliminatórias da Copa de 2010, César Farías assumiu a equipe na quinta rodada. E a Vinotinto chegou à última rodada com chances de tomar o lugar do Uruguai na repescagem. Mesmo com a missão inglória em vencer o Brasil, em Campo Grande, os visitantes arrancaram o empate – e alguns meses depois, em um amistoso nos Estados Unidos, a vitória histórica sobre os pentacampeões mundiais por 2 a 0. Terminariam na mesma oitava posição de 2006, mas apenas dois pontos abaixo dos uruguaios.

Classificados pela primeira vez a um torneio Fifa, no Mundial Sub-20 de 2009, no Egito, acabou fora nas oitavas de final. E a sucessão de quebra de marcas e resultados surpreendentes também deram as caras nesta Copa América. Com empates diante do Brasil e Paraguai, onde atuou bem, dentro de suas váris limitações, os comandados de Farías só não foram os campeões da chave pelo saldo de gols.

Além disso, mais jogadores do país estão tendo experiências fora do futebol local. Em 2007, nove atletas chegaram à Copa América oriundos de clubes colombianos, cipriotas, noruegueses e portugueses, ficando a cargo de Juan Arango, uma das estrelas do mediano Mallorca, à época. Na edição argentina do torneio continental, já havia três venezuelanos em times da Bundesliga, três em La Liga, além de mais representantes no futebol mexicano, argentino, estadunidense, português e holandês, totalizando 14 atletas, o que aponta a difusão e valorização gradual do país no cenário global.

Com o trabalho de Farías mantido, uma renovação gradual e jogadores mais experientes no planeta bola, porque não sonhar com uma vaga no suprassumo do futebol mundial, bem no "quintal" venezuelano? Em teoria, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai brigariam pelas vagas diretas. A repescagem tem o Equador (participante de Mundiais desde 2002), que também tem boa experiência internacional, mas é irregular. Já a Colômbia tem bons valores individuais, mas sofre para enquadrá-los em um esquema de jogo, fato que deixou a seleção cafetera de fora dos últimos três mundiais.

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