26.7.11

Ademílson: o Henry de Cotia

*Redigido originalmente para a seção "Fique de Olho", do site Olheiros (@olheiros)


Após bom papel no Mundial Sub-17, Ademílson foi promovido à equipe principal do São Paulo


Há jogadores que evoluem nos clubes e nas seleções brasileiras de base ao mesmo tempo, subindo em ambas de acordo com sua evolução como atleta. Há outros que precisam de um empurrão do destino ou de uma mão amiga para dar um salto na carreira. Foi o caso do atacante Ademílson, um dos destaques do Brasil no último Mundial Sub-17, que teve a ajuda decisiva de um "jovem veterano": Lucas Piazon.

Foi o companheiro de São Paulo – vendido em março para o Chelsea, por R$ 17,3 milhões – que o indicou ao técnico do Brasil, Émerson Ávila, que tinha algumas carências para sanar antes de fechar o elenco para o torneio. Por isso, o treinador chamou Piazon e outros jogadores de confiança para sugerir a observação de alguns candidatos. Ponto para
a amizade, já que Ademílson foi convocado e se tornou artilheiro da seleção no torneio disputado no México (ao lado do meia Adryan), com cinco gols.

Da Baixada Santista a Cotia

Natural de Cubatão, em São Paulo, Ademílson Braga Bispo Junior começou foi descoberto pelo diretor da escolinha do São Paulo em São Vicente, onde vivia. Logo ganhou bolsa para treinar no local e chamou a atenção de Toninho, comandante da equipe sub-13, em uma das competições promovidas pelo São Paulo Center, quando tinha apenas 11 anos. Aprovado para integrar a categoria de base do time do Morumbi, ele permaneceu monitorado na Baixada Santista até ter idade para poder se mudar para o Centro de Formação em Atletas, em Cotia, quartel-general da base são-paulina.

Ao integrar a equipe sub-15 do tricolor, Ademílson teve que, pacientemente, esperar pela sua chance, ofuscado por nomes mais conhecidos, como o do próprio amigo Piazon e do então titular Bruno Lima. Com a ausência de Piazon, convocação para a seleção brasileira e que voltaria somente na fase final do Campeonato Paulista, ele acabaria ganhando a posição quando a estrela do time voltou, deixando Lima no banco e formando parceria com a estrela do time, que atuava como segundo atacante.

Autor de 23 gols em 26 partidas no vice-campeonato paulista sub-15 do São Paulo, em 2009, o centroavante logo ganhou um apelido de peso: “Ademy Henry” – alusão ao atacante francês campeão do mundo com a França em 1998, Thierry Henry, tanto pela semelhança física quanto pela vocação de marcar gols. Na Copa Nike, disputada no mesmo ano, ajudou o São Paulo a trazer a taça, ficando a apenas dois gols de Lucas Piazon, grande destaque daquele torneio.

As boas atuações logo o alçaram ao time sub-17, mesmo com Ademílson tendo 16 anos. Foram nove gols na nova categoria, em 2010. Mesmo sendo bem mais baixo que o “xará” francês (1,75m, contra 1,88m), a semelhança do futebol da nova joia tricolor é inspirado em outro famoso e brigador centroavante que é ídolo no Morumbi e que voltou ao clube recentemente: Luís Fabiano. A facilidade de remates de média distante é aliada ao constante deslocamento, além da aptidão no posicionamento e cabeceio.

Indicação, DVDs e convocação

Enquanto o “Henry de Cotia” estava surgindo, Lucas Piazon era a grande estrela da categoria no Tricolor e um dos maiores jogadores do país nesta faixa etária. Tanto que no Sul-Americano Sub-17, disputado no Equador, ele era uma das estrelas que ajudou a conquistar o décimo título continental da seleção brasileira, ao lado de talentos como o meia Adryan, do Flamengo.

Ainda assim, Émerson Ávila não havia fechado o elenco que iria ao México para disputar o Mundial. Por isso, o treinador fez algo incomum, ainda mais em se tratando de equipes de base: pediu indicação de convocáveis aos seus comandados. E o parceiro de ataque não titubeou em rasgar elogios ao amigo. Desconfiado, Ávila foi até Cotia para ver Ademílson em ação. Gostou do que viu, mas pediu à direção tricolor alguns DVDs com lances do candidato. A análise minuciosa deu certo: a convocação para a Copa do Mundo foi a primeira da carreira do matador a serviço da verde-amarela e surpreendeu a todos.

“Eu sempre esperava ser convocado, mas não direto para o Mundial. Foi uma surpresa muito grande, até pensei que iria sentir o peso da camisa, mas meus companheiros, familiares e amigos conversaram comigo antes e me tranquilizaram. Agora já me sinto mais confiante”, disse ao Globoesporte.com, após se destacar no torneio.

De homem-surpresa a homem-gol

A boa impressão para o chefe foi além de Cotia e das imagens de seus gols e jogadas. Na preparação do elenco ao Mundial, na Granja Comary, o atacante não só ganhou a titularidade, reeditando o entrosado ataque do São Paulo com Piazon, como ficou encarregado de envergar a camisa nove. Que ele faria jus nos campos mexicanos.

Na estreia contra a Dinamarca, em Guadalajara, Adryan e Piazon, os mais conhecidos da equipe, ganharam mais atenção dos defensores nórdicos. Melhor para o centroavante, que, com maior liberdade em campo, deu seu cartão de visitas com apenas 31 minutos de estreia. Da entrada da área, ele bateu com força no canto do goleiro Korch, que não evitou o primeiro de seus cinco gols na Copa. No segundo tempo, foi dos pés do atacante o passe para o lateral Wallace, do Fluminense, marcar o segundo. Fechando o placar, Ademílson mostrou frieza na entrada na área para limpar os dinamarqueses e fuzilar no canto, coroando uma estreia impecável.

“Gostaríamos de ter alguns DVDs com ele. Foi, claro, um jogador-chave na partida. No primeiro gol, pensei: ‘Ok’. Mas o segundo foi muito bem feito, com uma boa finalização. Ele foi rápido, mostrou muita habilidade”, disse o surpreso comandante da Dinamarca, Thomas Frank, ao site da Fifa, após a derrota por 3 a 0.

Depois de passar em branco na vitória mínima sobre a Austrália, o goleador entraria em ação no disputado jogo contra a Costa do Marfim, que acabaria em 3 a 3, ao marcar o segundo gol do brasil. Nas oitavas, deixaria mais um tento contra os equatorianos e outro no triunfo por 3 a 2 sobre os japoneses. Os brasileiros perderiam a chance de levar o quarto título mundial da categoria na derrota para os uruguaios. Mesmo com o frustrante quarto lugar, por ora, a ordem do protagonismo se inverteu: Ademílson saiu como um dos destaques da competição, ao contrário do amigo Piazon – já vendido ao Chelsea – que ficou abaixo das expectativas na competição.

Coincidência ou não, o São Paulo já havia resolvido apostar pra valer no futebol de sua mais nova estrela em dezembro de 2010, quando rubricou o primeiro contrato profissional com o atacante por três anos, elevando sua multa rescisória para 30 milhões de euros. E com recente política do clube do Morumbi em valorizar mais os talentos formados em casa – Lucas, Casemiro, Wellington e Bruno Uvini, os mais constantes –, o Henry de Cotia pode reaparecer aos olhos dos torcedores do São Paulo, que já tiveram uma ótima primeira impressão de sua mais nova joia.

Ficha técnica

Nome: Ademílson Braga Bispo Junior
Data de nascimento: 09/01/1994
Local de nascimento: Cubatão, São Paulo
Clube que defendeu: São Paulo
Seleção de base que defendeu: Brasil sub-17

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