11.6.11

Quero ser um Barcelona

Que o Barcelona é o time com o qual todos sonham atualmente, não há dúvidas. Todo mundo que admira o belo futebol dos comandados de Pep Guardiola gostaria, no fundo, que a equipe reverenciada mundialmente fosse a sua de coração. Se existisse um Barça na prateleira, seria o objeto de consumo mais cobiçado. O papo mercadológico, que soa absurdo, é, de certa forma, uma das metas do mais novo rico que resolveu despejar caminhões de dinheiro em um clube de futebol: o sheikh Abdullah ben Nasser Al-Thani, pertencente à família real do Qatar, vice-presidente do Doha Bank, membro das diretorias do Al-Rayyan (clube do técnico brasileiro Paulo Autuori) e da Federação Equestre do Qatar. Em junho de 2010, ele comprou o modesto Málaga, da Espanha, por 36 milhões de euros (R$ 81 milhões).

O dono de hotéis, shopping centers, empresas de telefonia móvel e concessionárias de veículos, com mais de 3000 empregados e com seus interesses chegando a 30 países distintos chegou na Espanha com discursos não muito diferentes de Roman Abramovich (russo proprietário do Chelsea ou Khaldoon Al-Mubarak (árabe que assumiu o comando do Manchester City): levar Los Boquerones às cabeças do futebol espanhol, que possui um abismo entre os poderosos Barcelona e Real Madrid para os outros times da elite do país. O Málaga quer seguir o exemplo de Sevilla e Villarreal, que ganharam mais status nos últimos anos. Movidos a muito dinheiro.

Contudo, o plano de Al-Thani quase foi postergado em uma temporada. A equipe da Andaluzia flertou boa parte de La Liga com a zona de rebaixamento. Inclusive, demitindo o primeiro técnico da nova era do clube, o português Jesualdo Ferreira, multicampeão com o Porto. Com a contratação do chileno Manuel Pellegrini – um dos responsáveis pela ascensão do Villarreal, mas que havia fracassado com o galáctico Real – e a vinda de reforços (o principal deles foi o brasileiro Júlio Baptista, com 11 jogos e nove gols), a equipe se salvou e conseguiu ficar na 11ª posição da liga nacional.

Com a salvação, o qatari anunciou o seu segundo (e ousado) grande passo na reformulação do clube: copiar o Barcelona. Além da bolada de R$ 225 milhões para a vinda de novos reforços, o sheikh fechou um acordo com a Nike, pagando para a empresa estadunidense fabricar seus uniformes, e não o contrário. Essa é a mesma Nike que patrocina os catalães desde 1998 e pagam cerca de 30 milhões de euros/temporada para fabricar material esportivo do clube. No patrocínio principal do clube, está a logomarca da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), órgão ao qual Al-Thani doará 1,5 milhões de euros/ano para divulgá-la em seu uniforme. Semelhante ao acordo entre Barcelona e Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Só que com o endividamento do clube, a entidade da ONU perdeu o principal espaço em seu fardamento para a Qatar Foundation, primeiro patrocínio comercializado na história do clube.

O novo dono do Málaga também promete um estádio novo, para 65 mil pessoas, além de investimentos maciços nas categorias de base (canteras) da agremiação – oito dos atuais 11 titulares do Barça são formados em La Masia, local de formação de atletas blaugranas. E os torcedores andaluzes andam eufóricos, com a comercialização de quase a metade dos 25 mil carnês para a temporada 2011/12 e lotando o acanhado estádio de La Rosaleda para receber o veterano Ruud Van Nistelrooy, primeiro grande reforço da equipe após o final do campeonato.

Claro que muitos dos preceitos do Barcelona passam longe de simplesmente a injeção de verbas, já que muitas das características históricas do clube são intimamente ligadas à luta para o reconhecimento e o orgulho da cultura da Catalunha. Mas é curioso o fato de Al Thani não querer que o Málaga seja “o novo Chelsea”. O patamar de “novo Barça” é ainda mais inalcançável. É tempo de saber por quanto tempo o sheikh vai aguentar brincar com a sua nova aquisição. E se a onde de "quero ser um Barcelona" contagiará aos futuros novos ricos que vão se aventurar com o futebol.

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