21.6.11

Futebol sem moral

POR VERÔNICA LIMA

Gosto de acompanhar futebol, confesso que um certo sentimento de vingar todas as mulheres quando fico a par de campeonatos, atuações de jogadores, escalações, crítica a cartolas. Futebol também é coisa de "menininha". Ou mulheres como eu dispensam esse adjetivo. No entanto, ando meio sem tempo para os campeonatos. Mas desconfio que não é só isso o que afasta minha atenção dos gramados.

Percebo que, como em outras esferas da vida, o futebol tem se tornado cada vez mais moralista. E, nesse caso, o moralismo não se aproxima nem um pouco do que poderíamos chamar de ética desportiva, esta sim total e necessariamente defensável.

Nesta semana, fiquei sabendo da decisão da Uefa de suspender por duas partidas os jogadores que forçarem um terceiro cartão amarelo para espantar o fantasma do risco de estar fora de jogos decisivos. Aparentemente ética, a decisão é de um moralismo que beira o bom-mocismo. Que fique claro: condeno toda e qualquer atitude violenta dentro dos campos, gosto do dito "jogo jogado", da malemolência que escapa das faltas frequentemente dignas de futebol americano. Mas a Uefa forçou a barra: qual é a fronteira que separa a famosa malandragem da raça de jogo, da vontade de ganhar ou mesmo da cabeça quente típica dos pré-momentos-decisivos do campeonato. E mais: onde fica a autonomia do juiz, autoridade soberana no retângulo mágico do gramado?

A impressão é que cada vez mais se esquece da essência lúdica do futebol, não apenas em nome do chamado "mercado da bola", mas também em nome de um moralismo que resulta em jogadores (e jogadas) cada vez mais previsíveis, em campeonatos cada vez menos emocionantes, em juízes cada vez mais pasteurizados e sem características pessoais. Até as comemorações de gols feitas pelos craques estão cada vez mais entediantes – vide, por exemplo, a tal dancinha ridícula inventada pela Globo a partir de um imbecil personagem, o João Sorrisão.

Foi-se a fascinante característica que o futebol trazia de ser decidido ali, dentro de campo, nos 90 minutos suados, tempo de unhas roídas, de corações apertados, de gritos, risos, palavrões, xingamentos. Enfim, paixão. Simplesmente pelo prazer de torcer, de ver a arte de controle da bola, a magia de balançar a rede.

E não se trata de nostalgia. Só cansei de ver os jogos serem decididos fora de campo.

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