14.6.11

O gol como presente

Empilhadeiras dão a Palermo a meta vazada por ele inúmeras vezes na Bombonera

No último domingo, a Bombonera deu adeus a um dos seus maiores ídolos na história. Apesar de não ser nenhum primor técnico como atleta, Martín Palermo sabia, como ninguém, a arte de marcar gols com a mítica camisa Xeneize: dos 297 de sua carreira, 235 foram pelo Boca (é o maior artilheiro da história do clube), com 124 deles marcados na casa boquense. Nada mais justo, após a partida contra o Banfield, que lhe dessem a baliza do estádio de presente, que ele conhece tão bem. Fora toda a festa feita, digna de Fenômeno. Que teve um adeus merecido, é verdade. Mas centrado demais às toneladas de elogios feitos por Galvão Bueno nos 15 minutos em que o eterno camisa 9 brasileiro jogou contra a Romênia. E uma festa pouco planejada no intervalo. Se tivesse visto a festa feita para El Loco, poderiam ter repensado tudo e o homenageado com mais estilo.

Por muito tempo, Palermo ficou marcado para os brasileiros como o homem que desperdiçou três pênaltis na Copa América de 1999, contra a Colômbia. Ainda assim, mais de dez anos depois, os deuses do futebol lhe deram a oportunidade de pagar tal dívida, com o gol nas Eliminatórias da Copa, diante do Peru, que manteve vivas as chances da Albiceleste ir ao Mundial da África do Sul, para o qual acabou classificada. E o Titán teve oportunidade de disputar a única Copa de sua carreira. E ser muito festejado, ao marcar o gol contra a Grécia.

O DNA de Palermo foi feito para que ele só brilhasse pelo Boca. Revelado pelo Estudiantes de La Plata, o matador teve passagem discretíssima pelo futebol espanhol (Villarreal, Betis e Alavés). Mas é veneradíssimo. Tanto que torcedores do Boca se mobilizam em um site para que a prefeitura de Buenos Aires crie o dia de San Palermo: 24 de maio (que remete ao "gol de muletas" contra o River Plate, em 2000, quando o camisa nove fez o gol com a perna contundida), 22 de junho (data do único gol de Palermo em Copas do Mundo, em 2010, contra a Grécia) ou 10 de outubro (data do gol que manteve o sonho de classificação da Argentina vivo, nas Eliminatórias Sul-Americanas, em 2009).

Tive a oportunidade de ver esse fanatismo de perto, na única vez em que estive na Bombonera. Riquelme era o maestro que joga com a cabeça erguida, enquanto Palermo tinha dificuldades em jogar com a bola dominada. Mas que se transformava quando surgia a possibilidade de marcar gols. Ambos são venerados igualmente. Ao todo, o Titán venceu com o Boca seis Campeonatos Argentinos, duas Copas Libertadores e um Mundial de Clubes, decidindo a final contra o temido Real Madrid. Mas ele não é ídolo pelos títulos.

O fenômeno de Palermo é cada vez mais raro: a identificação genuína com um clube e sua torcida. Um otimista do gol, como é conhecido. O futebol precisa de mais jogadores goleadores, caneleiros e que trazem paixão ao futebol, como Palermo.


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