14.3.07

Nas asas da coruja

Na faculdade onde estudo, costumamos brincar com um amigo, o qual tem a fama de ser muito "azarado". E entre as inúmeras "hipóteses" para seguidos acontecimentos infelizes, falamos muito sobre uma coruja invisível, que estaria pousada em seus ombros. Toda vez que ela começa a piar, algo ruim está para acontecer. Mas por quê estou contando divagações de boteco no blog? Porque quero fazer a analogia da "teoria da coruja" com o atual momento do futebol italiano. A cada semana, surge um fato, um escândalo ou denúncia envolvendo o Calcio Italiano, atual campeão mundial.

Só nessa semana, três polêmicas jogaram ainda mais lama no esporte dentro da Itália, entre eles, o surgimento de mais um jogador pego no doping por cocaína, a polêmica da suposta falta de fair-play do romeno Adrian Mutu no jogo de sua equipe, a Fiorentina, contra o Palermo e a descoberta de um esquema em que um paparazzi fotografava jogadores e figuras influentes na Itália, com a intenção de extorquir dinheiro das vítimas, em troca da não-publicação de fotos comprometedoras.

A coisa realmente anda feia na Itália. As asas da coruja começaram a pairar sobre o Calcio a partir do escândalo que ficou conhecido como Calciocaos, que consistia no envolvimento de jogadores, árbitros e dirigentes em manipulação de resultados e na transfêrencia ilegal de alguns jogadores durante os anos de 2005 e 2006. Com a descoberta desse complexo esquema de propinas e manipulações, a Itália viu dirigentes serem punidos, jogadores investigados, clubes sofrendo severas punições e os últimos dois títulos, conquistados pela Juventus foram caçados. Com isso, a Vecchia Signora, uma das principais agremiações de futebol do país, foi relegada à Série B do Italiano. Milan, Fiorentina, Lazio e Reggina perderam pontos antes mesmo de se iniciar o capeonato desta temporada, prejudicando as suas pretensões dentro e fora da Itália. A conquista da Copa do Mundo e a eleição do italiano Fabio Cannavaro como o melhor futebolista de 2006 foram apenas alguns sopros de alívio para o péssimo momento que o futebol atravessa na Itália, tanto nos bastidores quanto dentro do próprio campo de jogo.
O campeonato local em si sofreu as consequências das punições aos clubes envolvidos no Calciocaos. Com o rebaixamento da Juve e o Milan punido com a perda de oito pontos, o caminho ficou aberto para a supremacia da Internazionale no Calcio deste ano. Tendo como principais adversários Roma e Palermo, bons times, mas com elenco limitados e muito inferiores tecnicamente comparados a Inter, a equipe do técnico Roberto Mancini conseguiu uma seqüencia de 17 vitórias consecutivas e abriu 16 pontos sobre a Roma, segunda colocada. Mesmo faltando pouco mais de dez jogos para o final do campeonato, é praticamente impossível que a Inter perca esse título. Resta a disputa de vagas para as Copas Européias, onde o Milan, se o campeonato acabasse hoje, conquistaria "apenas" uma vaga na Copa da UEFA, pois está a seis pontos da zona de classificação para a Champions League, a grande vedete dos campeonatos europeus, tanto técnica quanto financeiramente.
Fora de campo, o coruja não deu trégua aos italianos. Foram registrados três casos de doping entre os jogadores da Série A italiana. Marco Borriello, atacante do Milan, foi flagrado com cortizona, enquanto que Francesco Flachi, atacante da Sampdoria e Nicholas Caglioni, goleiro do Messina, tiveram resquícios de cocaína no exame antidoping. Ainda fora de campo, houve o triste caso da morte do policial Filippo Raciti, no dérbi entre Catania e Palermo. O episódio gerou uma grande discussão na opinião pública do país, gerando até ações drásticas por parte do governo italiano, entre elas, a interdição de mais da metade dos estádios de clubes das Séries A e B, por falta de segurança aos torcedores. Os clubes tiveram que correr para poder adequar seus estádios às novas exigências feitas pelo governo, o que lhes causou prejuízo financeiro, além de desmoralizar ainda mais a imagem do futebol italiano ao mundo.

O caso do Paparazzi Fabrízio Corona mostrou que a coruja ainda não parou de piar. Preso pelas autoridades locais nesta semana, o fotógrafo é acusado de formar uma quadrilha, que extorquia dinheiro de celebridades italianas (entre elas, jogadores) focados pelas lentes do paparazzi em situações embaraçosas ou delicadas. Segundo a polícia, Corona formou uma quadrilha que possuía até mulheres (no caso, usadas como iscas para serem flagradas com as vítimas), além de fotografos e contatos nas principais boates de Milão e Roma, centros que abrigam os principais astros do Campeonato Italiano. Suspeita-se que entre algumas das vítimas do esquemafeito por Corona estejam o artilheiro do Calcio deste ano, Francesco Totti (que teria pago cerca de 50 mil euros para não ter fotos suas publicadas), Alberto Gilardino, David Trezeguet, Vincenzo Montella e até o brasileiro Adriano, que ultimamente fez a alegria dos tablóides com muitas fotos do jogador "na balada" e consumindo bebidas alcólicas.
Até o fair-play, prática em que há uma espécie de "código de ética" entre os jogadores em relação a contusões durante a partida (como a prática de se jogar a bola pra fora para atendimento de um jogador machucado, por exemplo) foi vítima da coruja italiana. Na partida deste último final de semana da Fiorentina contra o Palermo, o romeno Mutu foi acusado de tirar proveito da contusão de Guana, do Palermo, para se beneficiar e marcar um gol, no jogo que terminou empatado por 1 a 1 (ver vídeo abaixo).



O episódio, além do mal-estar causado no momento do gol, causou a expulsão do técnico do Palermo, Francesco Guidolin, que reclamou veementemente da postura "desleal" de Mutu. E a troca de farpas entre os técnicos das duas equipes ainda deu pano pra manga dos tablóides italianos, já que acusações pessoais entre as equipes foram as manchetes da semana nos jornais locais. Como apontou o colunista Ricardo Gobbet em sua coluna no site Trivela, as relações entre as equipes e principalmente entre as torcidas das duas equipes ficarão muito delicadas de agora em diante.

E a soma de todos esses fatores só poderia trazer um montante ruim. Segundo as estatísticas, o público desse campeonato italiano é um dos piores dos últimos anos. Mas há quem veja uma luz em meio a essa nebulosa e demorada tempestade. A excelente campanha da Juventus na segunda divisão e as investidas do Milan em possíveis contratações de impacto para a próxima temporada, além da forte Inter, podem trazer de volta as acirradas disputas pelo topo no futebol italiano. Para esse final de temporada, com a precoce eliminação da Inter na Champions League, o Milan pode ser o salvador da pátria do futebol italiano no cenário clubístico europeu. A equipe rossonera está nas quartas-de-final da Champions, onde enfrentará o tradicional Bayern de Munique. Apesar do favoritismo da competição ser creditado as equipes inglesas (Manchester, Liverpool e Chelsea) e da fase inconstante do Milan em 2006/2007, o time tem tradição e pode surpreender. E um título europeu seria um belo modo de se espantar essa coruja, que se mostra cada vez mais gorda.

Um comentário:

Uilians Uilson disse...

É o futebol italiano não é mais o mesmo. Para completar a lista de tragédias a Fifa ainda escolheu a Argentina como o melhor do Planeta... Bela postagem.

Um abraço e sucesso!

Uilians Santos