6.2.07

Medidas Drásticas

Confusão e morte no dérbi entre Catania e Palermo reacendem a discussão sobre novas medidas para garantir a segurança nos estádios italianos

O mundo do futebol acompanhou, estarrecido, a mais uma morte causada pelo confronto entre torcidas rivais. Na última sexta, durante o dérbi siciliano entre Catania e Palermo, pelo Campeonato Italiano, o policial Filippo Raciti, de 38 anos, morreu vítima de um explosivo atirado contra ele por torcedores. A tragédia foi precedida de muita briga e confusão durante o dérbi disputado no estádio Angelo Massimino, do Catania. Já durante a partida, foguetes foram atirados em direção ao gramado e a partida teve de ser paralisada por cerca de 40 minutos. Nas arquibancadas do estádio, uma verdadeira batalha era travada entre policiais e torcedores. Saldo final: mais de uma centena de torcedores presos, cerca de 80 pessoas feridas durante o confronto, além da trágica morte de Raciti.

O ocorrido na Sicília gerou algumas medidas drásticas por parte da Federação Italiana, como a suspensão do restante da rodada do campeonato no final de semana passado e o cancelamento do amistoso da Itália frente a Romênia. O país parou, tentando achar soluções para cessão das mortes nos espetáculos esportivos. O Primeiro-Ministro italiano Romano Prodi exigiu das autoridades a punição dos envolvidos, além da criação de mecanismos com objetivo de tentar cessar as mortes nos estádios. São ventiladas a adoção de medidas semelhantes as do anti-hooliganismo inglês, que baniu muitos torcedores brigões dos estádios, adequou os estádios para condições de segurança aceitáveis aos torcedores, jogadores e autoridades incumbidas de manter a ordem. Mas todas essas medidas drásticas só foram pensadas após grandes tragédias no futebol britânico. A primeira delas foi no estádio Heysel, Bélgica, durante a decisão da Copa dos Campeões entre Juventus e Liverpool de 1985. Na oportunidade, após invasão da torcida inglesa no setor do estádio destinado aos italianos, 39 torcedores foram mortos, muitos pisoteados durante a confusão pelos próprios torcedores, que tentavam proteger-se da investida dos hooligans ingleses. Por conta da tragédia, onde o Liverpool foi responsabilizado, as equipes inglesas foram banidas de competições européias por cinco anos. As primeiras mediadas a serem postas em prática foi a instalação de câmeras de vídeo para identificação dos torcedores nos estádios e alguns hooligans baderneiros, previamente identificados, ficaram proibidos de freqüentar os estádios ingleses.

Mas mesmo essas medidas iniciais não foram suficiente para evitar o que estava por vir. A Tragédia de Hillsborough, ocorida em abril de 1989, durante partida do Liverpool e Nottingahm Forrest matou 96 torcedores do Liverpool, muitos deles esmagados contra o alambrado, por conta da superlotação do estádio. Ainda cicatrizando Heysel, as autoridades inglesas baixaram uma série de medidas de segurança nos estádios, a "Taylor Report", que determinou a adequação dos estádios ingleses as medidas de segurança para dar mais conforto aos torcedores e evitando trágeidas como a de Heysel e a de Hillsborough.
O que me parece é que medidas drásticas só são tomadas após grandes tragédias de comoção nacional, como as citadas acima ou como a do policial Raciti. Essas medidas já começam a ser discutidas no Parlamento Italiano e cogita-se até a responsabilização dos clubes no episódio. "Não podemos pôr em risco permanente a vida dos policiais. É preciso encontrar uma maneira de responsabilizar também os clubes de futebol para que a situação mude de forma radical" afirmou Prodi a agência de notícias alemã Deustche-Welle.

O colunista do site Trivela Cassiano Gobbet vê a morte do policial como mais uma pá de lama no já combalido moralmente futebol italiano, abalado pelo escândalo que rebaixou a Juventus. Os reflexos desses problemas são visíveis: Queda do público nos estádios e um campeonato com nível técnico afetado.

Confusão também no Brasil

No Brasil a situação não é muito diferente. Leis que não punem, policiais despreparados e a falta de segurança nos estádios, muitos deles ultrapassadíssimos para receber o público, são os elementos para um verdadeiro coquetel Molotov, que pode explodir a qualquer momento, trazendo diversas perdas. No último fim de semana, além de algumas confusões costumeiras entre torcidas de grandes times rivais, dois fatos chamaram a atenção da imprensa nacional: Primeiro, a agressão do gandula ao goleiro do Botafogo, durante o dérbi entre Comercial e Botafogo/SP, na segundona do Paulista. Carlos Marcos deu uma "ferrada" nas costas do arqueiro rival. O STJD interditou o estádio do Comercial e a FEderação Paulista estuda medidas para dar algum tipo de punição ao clube. Em Minas, cenas lamentáveis do despreparo policial na partida entre Vila Nova e Cruzeiro. A confusão nas arquibancadas entre policiais e torcedores fez com que até a partida tivesse que ser paralisada, pois a fumaça do gás lacrimogênio lancada pelos policiais nas arquibancadas chegou até ao campo, impossibilitando o bem-estar dos jogadores. As cenas mostram a agressão dos policiais a mulheres, além do uso excessivo da força contra torcedores aparentemente já dominados pelos policiais. O discurso, no dia seguinte aos fatos, sempre é o mesmo. A imprensa entrevista o responsável pela corporação, ele diz que será aberto um processo administrativo e depois o fato cai no esquecimento. Quase sempre ninguém é punido.

Na Europa, o problema é mais crítico, por conta do comportamento irracional e xenofóbico de seus torcedores. As leis são severas, mas não parecem suficientes para parar os torcedores-delinqüentes. Numa outra mão, apesar do problema não ter a gravidade como na Europa, a falta de interesse das autoridades em encontrar uma solução prática, através das leis, só vai aumentando a pilha de problemas e do perigo do torcedor comum, que vai ao estádio para se divertir. Ações isoladas não são suficiente para sanar os problemas. Mas nos dois casos, esperamos que cenas tristes como Heysel, ou a batalha campal no Pacaembu, em 1995, não sejam usadas para que medidas drásticas sejam tomadas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante e oportuno o que vc colocou sobre a insegurança do estádios brasileiros.

No domingo, um torcedor foi espancado até a morte no clássico BAVI. Isso acaba amedrontando os tantos pais e mães de família que vão ao estádio para assistir um espetáculo e acabam,muitas vezes, assistindo um filme de terror.

Abs