
Na faculdade onde estudo, costumamos brincar com um amigo, o qual tem a fama de ser muito "azarado". E entre as inúmeras "hipóteses" para seguidos acontecimentos infelizes, falamos muito sobre uma coruja invisível, que estaria pousada em seus ombros. Toda vez que ela começa a piar, algo ruim está para acontecer. Mas por quê estou contando divagações de boteco no blog? Porque quero fazer a analogia da "teoria da coruja" com o atual momento do futebol italiano. A cada semana, surge um fato, um escândalo ou denúncia envolvendo o
Calcio Italiano, atual campeão mundial.
Só nessa semana, três polêmicas jogaram ainda mais lama no esporte dentro da Itália, entre eles, o surgimento de mais um jogador pego no doping por cocaína, a polêmica da suposta falta de fair-play do romeno Adrian Mutu no jogo de sua equipe, a Fiorentina, contra o Palermo e a descoberta de um esquema em que um paparazzi fotografava jogadores e figuras influentes na Itália, com a intenção de extorquir dinheiro das vítimas, em troca da não-publicação de fotos comprometedoras.

A coisa realmente anda feia na Itália. As asas da coruja começaram a pairar sobre o
Calcio a partir do escândalo que ficou conhecido como
Calciocaos, que consistia no envolvimento de jogadores, árbitros e dirigentes em manipulação de resultados e na transfêrencia ilegal de alguns jogadores durante os anos de 2005 e 2006. Com a descoberta desse complexo esquema de propinas e manipulações, a Itália viu dirigentes serem punidos, jogadores investigados, clubes sofrendo severas punições e os últimos dois títulos, conquistados pela Juventus foram caçados. Com isso, a
Vecchia Signora, uma das principais agremiações de futebol do país, foi relegada à Série B do Italiano. Milan, Fiorentina, Lazio e Reggina perderam pontos antes mesmo de se iniciar o capeonato desta temporada, prejudicando as suas pretensões dentro e fora da Itália.
A conquista da Copa do Mundo e a eleição do italiano Fabio Cannavaro como o melhor futebolista de 2006 foram apenas alguns sopros de alívio para o péssimo momento que o futebol atravessa na Itália, tanto nos bastidores quanto dentro do próprio campo de jogo.

O campeonato local em si sofreu as consequências das punições aos clubes envolvidos no
Calciocaos. Com o rebaixamento da Juve e o Milan punido com a perda de oito pontos, o caminho ficou aberto para a supremacia da
Internazionale no
Calcio deste ano. Tendo como principais adversários Roma e Palermo, bons times, mas com elenco limitados e muito inferiores tecnicamente comparados a Inter, a equipe do técnico Roberto Mancini conseguiu uma seqüencia de 17 vitórias consecutivas e abriu 16 pontos sobre a Roma, segunda colocada. Mesmo faltando pouco mais de dez jogos para o final do campeonato, é praticamente impossível que a Inter perca esse título. Resta a disputa de vagas para as Copas Européias, onde o Milan, se o campeonato acabasse hoje, conquistaria "apenas" uma vaga na Copa da UEFA, pois está a seis pontos da zona de classificação para a Champions League, a grande vedete dos campeonatos europeus, tanto técnica quanto financeiramente.

Fora de campo, o coruja não deu trégua aos italianos. Foram registrados três casos de doping entre os jogadores da Série A italiana. Marco Borriello, atacante do Milan, foi flagrado com cortizona, enquanto que
Francesco Flachi, atacante da Sampdoria e Nicholas Caglioni, goleiro do Messina, tiveram resquícios de cocaína no exame antidoping. Ainda fora de campo, houve o triste caso da morte do policial Filippo Raciti,
no dérbi entre Catania e Palermo. O episódio gerou uma grande discussão na opinião pública do país, gerando até ações drásticas por parte do governo italiano, entre elas, a interdição de mais da metade dos estádios de clubes das Séries A e B, por falta de segurança aos torcedores. Os clubes tiveram que correr para poder adequar seus estádios às novas exigências feitas pelo governo, o que lhes causou prejuízo financeiro, além de desmoralizar ainda mais a imagem do futebol italiano ao mundo.

O caso do
Paparazzi Fabrízio Corona mostrou que a coruja ainda não parou de piar. Preso pelas autoridades locais nesta semana, o fotógrafo é acusado de formar uma quadrilha, que extorquia dinheiro de celebridades italianas (entre elas, jogadores) focados pelas lentes do
paparazzi em situações embaraçosas ou delicadas. Segundo a polícia, Corona formou uma quadrilha que possuía até mulheres (no caso, usadas como iscas para serem flagradas com as vítimas), além de fotografos e contatos nas principais boates de Milão e Roma, centros que abrigam os principais astros do Campeonato Italiano. Suspeita-se que entre algumas das vítimas do esquemafeito por Corona estejam o artilheiro do
Calcio deste ano, Francesco Totti (que teria pago cerca de 50 mil euros para não ter fotos suas publicadas), Alberto Gilardino, David Trezeguet, Vincenzo Montella e até o
brasileiro Adriano, que ultimamente fez a alegria dos tablóides com muitas fotos do jogador "na balada" e consumindo bebidas alcólicas.
Até o
fair-play, prática em que há uma espécie de "código de ética" entre os jogadores em relação a contusões durante a partida (como a prática de se jogar a bola pra fora para atendimento de um jogador machucado, por exemplo) foi vítima da coruja italiana. Na partida deste último final de semana da Fiorentina contra o Palermo, o romeno Mutu foi acusado de tirar proveito da contusão de Guana, do Palermo, para se beneficiar e marcar um gol, no jogo que terminou empatado por 1 a 1
(ver vídeo abaixo).