4.8.11

Comemoração media training

Vascaínos comemoram com a dança do João Sorrisão: outra previsibilidade no futebol nacional

No Brasileirão, mais do que nunca, todos estão mais atentos aos gols. Mas a causa não é lá muito nobre, mas sim para ver quem é que será o próximo a fazer a tal da dança do João Sorrisão, campanha/publicidade do Esporte Espetacular, da Rede Globo. Dizer que a emissora mais poderosa do país adota tal prática para fixar sua marca parece meio redundante, já que é dela o domínio das principais transmissões do futebol brasileiro nas últimas décadas.

Para aparecer na Globo, os atletas balançam como joões-bobos. Assim, as comemorações do momento máximo de futebol ficam enlatadas e viram motivos de repetitivas matérias nos programas jornalísticos (ou de entretenimento?) de esporte da emissora. No fundo, isso acaba virando uma troca: os marcadores ganham 15 minutos (segundos) de fama, como um autêntico BBB, e a Globo torna a celebração um produto comercial – disponível em seu site por R$ 49,90.

Por causa da "moda", vi manifestações contra o João Sorrisão em que uns culpam jogadores do passado, como Viola e Paulo Nunes, pelas comemorações irreverentes. Outros, a "modernização do futebol", de chuteiras coloridas e cabelos moicanos em lugar das chuteiras pretas e dos socos no ar. A questão vai além do conservadorismo ou não (é algo que é do gosto de cada um e não dá pra se discutir). Trata-se da emissora começar a pautar um dos aspectos mais espontâneos do esporte bretão: o extravasamento na hora de comemorar. Se o jogador não pode tirar a camisa para comemorar um gol salvador, porque ele pode fazer um movimento que vai levá-lo novamente à TV para dizer "fiz o gol porque meu filho/sobrinho queria o boneco?"

É apenas mais um aspecto da emissora que passou a tratar o esporte quase que somente como entretenimento, em detrimento da parte que realmente deve ser noticiada e discutida, que compreende toda a esfera de bastidores, refletidas em campo. A difícil tarefa de mesclar a veiculação da notícia dessa editoria fora da "seriedade" que requer a economia, por exemplo, faz os programas esportivos da Globo se tornarem supérfluos – alta audiência não atesta, necessariamente, a qualidade. Assim como a tal comemoração manufaturada.

Precisamos de declarações bombásticas de Dadás Maravilha, Vampetas, Romários e Paulos Nunes. Até mesmo da arrogância inesperada de Mourinhos. Se as declarações dos atletas da atualidade – muitos deles já assessorados desde a adolescência – mostram jogadores da geração media training, as comemorações de gol no futebol brasileiro parecem se enveredar pela mesma via, saindo como uma produção em série digna do fordismo.

Pelé ficou eternizado pelo soco no ar; Ronaldo, pelo dedo em riste (que nasceu de uma comemoração comercial, diga-se de passagem); Bebeto, pelo "nana nenem" de 1994. A criatividade premia desde os campeões, como o Santos avassalador, que ganhou quase tudo em 2010/11, até os desconhecidos finlandeses do Stjarnan, que ganharam o mundo em 2010 com coreografias inusitadas. Fico do lado do inesperado, assim como o brasileiro Marcello Matrone, atacante do HIK da Finlândia (abaixo).


2 comentários:

Blog de Bolas disse...

Cara !
Tu és genial, falou tudo !
A Globo manda na CBF, pisa no publico esportivo do país, temos que aturar Ricardos Teixeiras da vida !
Vamos lutar contra isso, pois somos os próprios "João Sorrisão", e os jogadopres poderiam ser mais criativos nas comemorações !

Editor disse...

Isso aí é uma vergonha André, unificaram até a comemoração dos gols, ridículo. Saudade das provocações do Viola, das máscaras do Paulo Nunes, do Marcelinho Carioca, até das repetidas mas marcas pessoais de Raí, Neto, Evair etc.

Muito se fala do Ceni, mas dúvido que ele faria uma coisa dessas, por exemplo.

Abraço