30.8.11

Contradição espanhola

Todos exaltam o futebol da seleção espanhola, atual campeã do mundo e equipe a ser batida, já que tem sua base mantida e possui vários novos talentos surgindo. Os gastos astronômicos da dupla Barcelona-Real Madrid, que se enfrentaram seis vezes só este ano, torna a rivalidade espanhola o clássico mais badalado do planeta. Ambos encantaram na estreia desta temporada em La Liga, com os merengues massacrando o Zaragoza, fora de casa, por 6 a 0, enquanto o Barcelona, mesmo sem zagueiros de ofício, não tomou conhecimento do bom Villarreal, que apanhou de cinco. Notoriamente, ambos são fortes e são os grandes protagonistas, novamente. Mas os coadjuvantes são cada vez mais coadjuvantes. E estão extremamente inofensivos em 2011/12 – o Submarino Amarillo foi o quarto colocado do último torneio nacional e está na fase principal da Champions League.

Enquanto a estreia de La Liga desta temporada foi adiada porque os jogadores exigiam garantias de pagamento de clubes (alguns, à beira da falência), Real e Barça não economizaram em reforços: segundo o site especializado alemão Transfermarkt, ambos gastaram cerca de € 55 milhões para a vinda de estrelas do quilate de Sánchez, Fàbregas e Fábio Coentrão, por exemplo. Com a exceção do Málaga, turbinado pelo dinheiro árabe (gastou € 58 mi) e do Atlético de Madrid, que fez caixa com as vendas de Sérgio Agüero e David De Gea para o futebol inglês, times tradicionais como o Sevilla (€ 11,3 mi) e Villarreal (€ 9,8 mi) gastaram quantias modestas, dada a força demonstrada por ambos nos últimos anos. O Valencia usou a venda de seu principal jogador, Juan Mata, para o Chelsea, para se reforçar – em 2010/11, já havia ganho uma fortuna com a venda do goleador Villa, para o Barça.

Com a partida de peças importantes de equipes medianas, sem a devida reposição, a situação do último campeonato deve se repetir. Falando apenas dos quatro primeiros e classificados à Champions, a diferença entre o bicampeão Barcelona para o Valencia, terceiro colocado, foi de 25 pontos (96 a 71). O abismo fica maior quando comparamos os culés ao Villarreal, o quatro: 34 pontos. A distância só cresce, considerando que depois de 2007/08, quando o Villarreal foi vice, os grandes rivais espanhóis se revezaram nas duas primeiras posições.

“É uma liga terceiromundista, em que dois clubes subtraem dinheiro da televisão dos demais que competem”, esbravejou o presidente do Sevilla, José Maria Del Nido. Depois da greve de atletas – respaldadas pelos não-atingidos jogadores de Barça e Real, é verdade –, a nova briga é da Liga de Fúbol Profisional (LFP) com as rádios espanholas pelos direitos de transmissão. E Del Nido argumenta, com razão, que não será o repasse dessa verba (irrisória, perto dos direitos de TV) que ajudaria nessa situação. Que é grave, se considerarmos que sete dos 20 clubes não possuem patrocinador master na camiseta – outros quatro possuem patrocínio de órgãos governamentais, que se voltam para o turismo –, fato que também reflete a crisa da própria Espanha, que atravessa crise econômica onde quase 22% dos economicamente ativos estão desempregados.

Ainda uma liga de primeiro escalão, a Liga Espanhola vai tomando o caminho da vizinha Portugal, onde apenas os três grandes têm chances reais de brigar pelo título, enquanto todas as outras equipes correm atrás de migalhas. E para o melhor futebol de seleção do mundo, a médio prazo, a bipolarização latente pode sim ser prejudicial. E à exceção dos clássicos, este promete ser um torneio tão sem atrativos quanto os dos últimos anos. Uma pena, dado que o futebol na Espanha é mais “solto” e menos pegado, quando comparado com o italiano, inglês e o disputadíssimo alemão.

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