27.6.09

E a aura de estrategista?

O episódio sobre a venda de Keirrison foi a gota d’água para a estadia de Vanderlei Luxemburgo à frente do Palmeiras. Por conta da negociação quase fechada entre Keirrison-Traffic-Barcelona, o atacante se ausentou de treinos e foi à Curitiba, com consentimento da diretoria do clube. Mas não com a de Luxa, que não hesitou em “dispensar” K9 do clube caso a negociação entre palmeirenses e catalães não se concluísse: “Dei proteção e agora ele não respeitou os companheiros. Se concretizar a negociação é só colocar outro aqui em seu lugar. Se não concretizar não é problema meu. Aqui, comigo, não joga”, afirmou ao GloboEsporte.com. E a “quebra de hierarquia” destronou o técnico, em mais um episódio onde ele mostra que, por vezes, o profissional se coloca acima do clube e da instituição que o paga - muito bem, por sinal.

Em pouco mais de um ano e meio de Palmeiras, um bom começo de trabalho com a conquista do Paulistão de 2008. Mas depois que Henrique – repassado ao mesmo Barcelona – saiu da zaga que o técnico começava a maturar, o setor nunca mais foi o mesmo. E o Palmeiras deixou escapar um Brasileiro pelo qual ficou por muito tempo brigando pela liderança. No Paulista desse ano, após começo fulminante, caiu vertiginosamente de produção e acabou eliminado pelo Santos. Na Libertadores, penou para se classificar durante a fase de grupos, levou a vaga do Sport na loteria dos penais e foi eliminado por um aguerrido, mais muito mais deficiente tecnicamente Nacional de Montevidéu, após dois empates. Isso com o apoio da Traffic para buscar reforços ao elenco ao fim de 2008.

Na parte tática, quase sempre o técnico escalava uma equipe diferente, principalmente na defesa. E quase nenhuma de suas “apostas” para 2009 vingou até aqui – apenas Cleiton Xavier e Armero, em um pacotão que incluía nomes como Jumar, Edmilson, Maurício Ramos, Ortigoza, e Fabinho Capixaba, entre outros. Há pouco mais de uma semana, PVC publicava em seu blog uma comparação entre os investimentos feitos em Luxemburgo e Mano Menezes, que assumiram, respectivamente, Palmeiras e Corinthians na mesma época. Apenas em salários, o ex-comandante palmeirense custou R$ 4,5 milhões a mais do que Mano. Além dos vencimentos, o custo-benefício no mesmo período aponta grande discrepância, ao analisarmos os elencos e resultados obtidos. Como o próprio PVC apontou, com a contratação de praticamente o mesmo número de atletas neste período – 32 pelo Palmeiras e 30 pelo Corinthians – Mano conseguiu montar uma espinha dorsal forte e um elenco competitivo e vencedor - duas finais de Copa do Brasil, um Paulistão e o título da Série B - em um Corinthians recém-rebaixado, enquanto Luxemburgo viu a maionese desandar após a derrocada do time comandado por ele no Campeonato Brasileiro, a qual quase custou a vaga palestrina nesta edição de 2009 Libertadores.

Como abordado neste blog há 15 dias no post “Perseguidos ou Perseguidores”, Luxa culpava a tudo e a todos pela instabilidade do Palmeiras. Menos a sua incapacidade de montar e comandar o elenco alviverde. Além da falta de profissionalismo ao “excluir” Keirrison do elenco, nunca é demais se lembrar de episódios polêmicos, como da vez que atacou de comentarista durante o jogo de seus próprios comandados, válido pela Copa Sul-Americana de 2008 diante do Argentinos Jrs., na Argentina. Além de não estar com o time reserva – o titular priorizava a disputa do certame nacional – não poupou críticas aos jogadores em campo na transmissão global. Uma atitude, no mínimo, pouco inteligente. Inteligência que também faltou na intransigência dele no caso Keirrison, o qual municiou ainda mais aos cardeais palmeirenses, que vinham pedindo há tempos a cabeça do treinador.

O mais estranho é que essa atitude parece ter sido arquitetada pelo próprio treinador para forçar a sua saída. Não havia qualquer especulação forte sobre o fato e o presidente Luiz Gonzaga Belluzzo o defendia com unhas e dentes, de torcedores e dirigentes que exigiam veementemente sua saída. Eis que, antes de todos os sites esportivos, Luxemburgo fez questão de comunicar que o Palmeiras o havia demitido por “quebra de hierarquia”, via twitter e em seu blog, hospedado no UOL, exatamente à 00h44 min. Quase quinze minutos antes da notícia veiculada pelo próprio portal, por volta da 1h. E na calada da noite, a quarta passagem de Luxemburgo no Palmeiras terminou. Com a aura de estrategista e manager - que sempre o consagrou através da carreira de técnico - bem mais opaca do que quando chegou, vindo do Santos.

Nenhum comentário: