24.5.11

Chega e veste a camisa

A Fifa é uma entidade omissa, quando o assunto em questão não lhe afeta diretamente. Nada de tentativas para tentar equiparar ou adequar os principais calendários de futebol do planeta, a convocação de árbitros de países sem tradição no futebol, mesmo que eles sejam ruins tecnicamente, em nome da "família futebol". Mas o assunto mais desprezado é o que vem tomando proporções mais sérias, devido a própria globalização da modalidade, como um todo: a naturalização de um atleta por outro país, diferente de sua terra natal.

Nesta semana, o goleiro Nilson (com passagens destacadas pelo Santa Cruz e Náutico) se tornou o mais novo cidadão burquinense. O brasileiro, que defende os portugueses do Vitória de Guiramães, já foi convocado pelo português Paulo Duarte para defender Burkina Faso, pequeno país africano que se libertou do domínio da França há pouco mais de 30 anos, tem o maior índice de analfabetismo do planeta e tem Ouagadougou como capital. Mesmo sem conhecer absolutamente nada sobre sua nova casa, o ponto não é o conhecimento geográfico – os jogadores que defendem a Seleção Brasileira mal sabem entoar o hino nacional. É a onda desenfreada de nacionalizações bizarras.

O arqueiro brasileiro jamais jogou a Burkinabé Premier League (a liga nacional do país africano), tampouco pisou no país. Mas já é titular garantido no gol para as Eliminatórias para a Copa Africana de Nações, no próximo dia 4, já que teve seu processo de naturalização acelerado por Duarte. "Já tentei contratá-lo para o Le Mans e não consegui, mas desta vez ele aceitou o convite. Sei que não é jovem, mas como homem e profissional é extraordinário. Um belíssimo guarda-redes, do melhor a jogar em Portugal", disse o comandante. A declaração não se assemelha a de um novo reforço de um clube qualquer?

Depois que o Qatar tentou "comprar" nacionalizações, como a de Aílton em 2004, quando o atacante esmerilhava no Werder Bremen e Schalke 04, a Fifa estabeleceu prazo de, pelo menos, dois anos como nativo no futebol local para se naturalizar – tempo que seria ampliado para cinco anos, mais tarde. Mas no próximo dia 1º de junho, o Congresso da Fifa votará, entre outras propostas, a redução deste prazo de cinco para três anos. Proposta feita pela federação dos Emirados Árabes Unidos, interessada direta.

A questão não é podar qualquer tipo de naturalização. Para citar exemplos brasileiros, jogadores como Deco, Pepe, Liedson (Portugal), Marcos Senna (Espanha), Kevin Kuranyi (Alemanha), Igor de Camargo (Bélgica), Eduardo da Silva (Croácia), Benny Feilhaber (EUA) e Alex (Japão) saíram desconhecidos do país, mas constituíram algum tipo de vínculo com suas respectivas seleções. Passaram a conhecer parte do sistema de como funciona o futebol local e acabaram se ambientando com a vida em sua segunda pátria. Em contrapartida, naturalizações como a do volante Hamilton (ex-Sport e Náutico), que está apto a defender a seleção togolesa desde 2003, soam bizarras.

Defender uma pátria não é como defender um clube. Todo jogador de futebol sonha em defender sua seleção natal (ou, em muitos casos, sua pátria de adoção) em uma competição oficial. Mas o ato de "aceitei a proposta de fulano, já que nunca tive oportunidade na seleção x" soa ridicula e excessivamente egoísta e comercial.

Nenhum comentário: