31.8.11

Nosso menino está crescendo - Ano V

O fim deste mês de agosto também marca o quinto ano de vida do Opinião FC. Que anda um pouco abandonado nos últimos meses, muito por relaxo deste que vos escreve. Porém, a importância deste espaço, para mim, continua a mesma. Tanto pessoalmente, quanto profissionalmente. E sou grato e feliz pelo que o blog pôde me proporcionar em sua trajetória.

Por isso é que ainda há o que se comemorar. Afinal, cinco anos é um tempo considerável de vida para um blog, este meio de comunicação e entretenimento tão difuso pela internet. Muito mais do que quando o Opinião FC nasceu, em agosto de 2006.

Espero que o nosso garoto possa ganhar uma roupa de gala para o seu sexto ano. De acordo com a importância dele.

30.8.11

Contradição espanhola

Todos exaltam o futebol da seleção espanhola, atual campeã do mundo e equipe a ser batida, já que tem sua base mantida e possui vários novos talentos surgindo. Os gastos astronômicos da dupla Barcelona-Real Madrid, que se enfrentaram seis vezes só este ano, torna a rivalidade espanhola o clássico mais badalado do planeta. Ambos encantaram na estreia desta temporada em La Liga, com os merengues massacrando o Zaragoza, fora de casa, por 6 a 0, enquanto o Barcelona, mesmo sem zagueiros de ofício, não tomou conhecimento do bom Villarreal, que apanhou de cinco. Notoriamente, ambos são fortes e são os grandes protagonistas, novamente. Mas os coadjuvantes são cada vez mais coadjuvantes. E estão extremamente inofensivos em 2011/12 – o Submarino Amarillo foi o quarto colocado do último torneio nacional e está na fase principal da Champions League.

Enquanto a estreia de La Liga desta temporada foi adiada porque os jogadores exigiam garantias de pagamento de clubes (alguns, à beira da falência), Real e Barça não economizaram em reforços: segundo o site especializado alemão Transfermarkt, ambos gastaram cerca de € 55 milhões para a vinda de estrelas do quilate de Sánchez, Fàbregas e Fábio Coentrão, por exemplo. Com a exceção do Málaga, turbinado pelo dinheiro árabe (gastou € 58 mi) e do Atlético de Madrid, que fez caixa com as vendas de Sérgio Agüero e David De Gea para o futebol inglês, times tradicionais como o Sevilla (€ 11,3 mi) e Villarreal (€ 9,8 mi) gastaram quantias modestas, dada a força demonstrada por ambos nos últimos anos. O Valencia usou a venda de seu principal jogador, Juan Mata, para o Chelsea, para se reforçar – em 2010/11, já havia ganho uma fortuna com a venda do goleador Villa, para o Barça.

Com a partida de peças importantes de equipes medianas, sem a devida reposição, a situação do último campeonato deve se repetir. Falando apenas dos quatro primeiros e classificados à Champions, a diferença entre o bicampeão Barcelona para o Valencia, terceiro colocado, foi de 25 pontos (96 a 71). O abismo fica maior quando comparamos os culés ao Villarreal, o quatro: 34 pontos. A distância só cresce, considerando que depois de 2007/08, quando o Villarreal foi vice, os grandes rivais espanhóis se revezaram nas duas primeiras posições.

“É uma liga terceiromundista, em que dois clubes subtraem dinheiro da televisão dos demais que competem”, esbravejou o presidente do Sevilla, José Maria Del Nido. Depois da greve de atletas – respaldadas pelos não-atingidos jogadores de Barça e Real, é verdade –, a nova briga é da Liga de Fúbol Profisional (LFP) com as rádios espanholas pelos direitos de transmissão. E Del Nido argumenta, com razão, que não será o repasse dessa verba (irrisória, perto dos direitos de TV) que ajudaria nessa situação. Que é grave, se considerarmos que sete dos 20 clubes não possuem patrocinador master na camiseta – outros quatro possuem patrocínio de órgãos governamentais, que se voltam para o turismo –, fato que também reflete a crisa da própria Espanha, que atravessa crise econômica onde quase 22% dos economicamente ativos estão desempregados.

Ainda uma liga de primeiro escalão, a Liga Espanhola vai tomando o caminho da vizinha Portugal, onde apenas os três grandes têm chances reais de brigar pelo título, enquanto todas as outras equipes correm atrás de migalhas. E para o melhor futebol de seleção do mundo, a médio prazo, a bipolarização latente pode sim ser prejudicial. E à exceção dos clássicos, este promete ser um torneio tão sem atrativos quanto os dos últimos anos. Uma pena, dado que o futebol na Espanha é mais “solto” e menos pegado, quando comparado com o italiano, inglês e o disputadíssimo alemão.

16.8.11

Reforço sentimental

Desejo do Barça e pedido do campeoníssimo Guardiola, Fàbregas vai herdar a 4, com a qual o seu chefe se consagrou como jogador

Quase oito anos após deixar as canteras de La Masia rumo à cinzenta Londres, Cesc Fàbregas faz jus ao ditado popular do “filho pródigo” e volta ao Barcelona da adolescência, que assim como ele, cresceu. A contratação pode ser vista sob um prisma muito particular: apesar das altas cifras envolvidas € 34 milhões (cerca de R$ 78,4 milhões), é uma contratação primordialmente sentimental.

Explico: mesmo sendo um pedido de Pep Guardiola, se observarmos o elenco do Barcelona, Fàbregas não vem como protagonista, como o era no Arsenal. Será uma valiosa opção no já dinâmico meio-campo culé, bombeado principalmente pelos “motores” Iniesta e Xavi. Jogadores como Busquets (cria do próprio Guardiola), Mascherano e Keita fazem o “trabalho sujo”, posto que deve passar a ser ocupado pelo novo reforço, um volante de formação, mas cada vez mais fixo como segundo, terceiro ou quarto homem de meio.

Para Fàbregas, faltou um título em sua carreira clubística como atleta, orquestrada pelo eficiente Arsène Wenger. De atleta mais jovem e a marcar a primeiro gol pelo Arsenal, galgou a tarja de capitão da equipe londrina. Que, pela política no investimento em jovens e a construção do Emirates Stadium, passou a ser um coadjuvante na Inglaterra enquanto Chelsea, Liverpool e Manchester United protagonizavam o título inglês e eram cabeças nas disputas da Champions League. Grandes, os Gunners acabaram ficando pequeno para o camisa 4, que saiu do clube que o revelou para o único clube que ele realmente iria nos seus 24 anos de idade. Que é o dono da Espanha, Europa e do Mundo há dois anos, com um futebol vistoso.

Segundo noticia a imprensa, o espanhol abriu mão de uma porcentagem da transferência que seria paga pelo seu ex-clube, cerca de R$ 9 milhões. Por outro lado, o Barça teria assinado uma cláusula em que prioriza uma futura negociação com o Arsenal e que destina 50% do valor de uma futura venda a um terceiro clube aos ingleses – e dada a duração dessas negociações, não duvido de tal exigência. Na prática: o clube só será beneficiado em campo. Comercialmente falando, mesmo que seja negociado por um valor astronômico, não haverá lucro. Uma aposta com o coração – algo raro, com todo o dinheiro que gira o carrossel do futebol moderno.

Com a chegada do bom chileno Alexis Sánchez, da Udinese (€ 26 milhões de euros), dois dos principais atletas poderão ser mais “poupados” durante esta temporada: Messi e Xavi, protagonistas de Argentina e Espanha. Falta apenas uma retaguarda na zaga, já que o incansável Puyol já não é mais nenhum garoto. Com a contusão do capitão blaugrana no final da última temporada, Mascherano foi deslocado para a zaga. Não comprometeu, mas não foi nenhum fenômeno.

Entrosado e reforçado, é o grande alvo a ser derrubado na Europa, frente a um Real Madrid que ainda tenta ganhar corpo, mas pode rivalizar durante a temporada.

4.8.11

Comemoração media training

Vascaínos comemoram com a dança do João Sorrisão: outra previsibilidade no futebol nacional

No Brasileirão, mais do que nunca, todos estão mais atentos aos gols. Mas a causa não é lá muito nobre, mas sim para ver quem é que será o próximo a fazer a tal da dança do João Sorrisão, campanha/publicidade do Esporte Espetacular, da Rede Globo. Dizer que a emissora mais poderosa do país adota tal prática para fixar sua marca parece meio redundante, já que é dela o domínio das principais transmissões do futebol brasileiro nas últimas décadas.

Para aparecer na Globo, os atletas balançam como joões-bobos. Assim, as comemorações do momento máximo de futebol ficam enlatadas e viram motivos de repetitivas matérias nos programas jornalísticos (ou de entretenimento?) de esporte da emissora. No fundo, isso acaba virando uma troca: os marcadores ganham 15 minutos (segundos) de fama, como um autêntico BBB, e a Globo torna a celebração um produto comercial – disponível em seu site por R$ 49,90.

Por causa da "moda", vi manifestações contra o João Sorrisão em que uns culpam jogadores do passado, como Viola e Paulo Nunes, pelas comemorações irreverentes. Outros, a "modernização do futebol", de chuteiras coloridas e cabelos moicanos em lugar das chuteiras pretas e dos socos no ar. A questão vai além do conservadorismo ou não (é algo que é do gosto de cada um e não dá pra se discutir). Trata-se da emissora começar a pautar um dos aspectos mais espontâneos do esporte bretão: o extravasamento na hora de comemorar. Se o jogador não pode tirar a camisa para comemorar um gol salvador, porque ele pode fazer um movimento que vai levá-lo novamente à TV para dizer "fiz o gol porque meu filho/sobrinho queria o boneco?"

É apenas mais um aspecto da emissora que passou a tratar o esporte quase que somente como entretenimento, em detrimento da parte que realmente deve ser noticiada e discutida, que compreende toda a esfera de bastidores, refletidas em campo. A difícil tarefa de mesclar a veiculação da notícia dessa editoria fora da "seriedade" que requer a economia, por exemplo, faz os programas esportivos da Globo se tornarem supérfluos – alta audiência não atesta, necessariamente, a qualidade. Assim como a tal comemoração manufaturada.

Precisamos de declarações bombásticas de Dadás Maravilha, Vampetas, Romários e Paulos Nunes. Até mesmo da arrogância inesperada de Mourinhos. Se as declarações dos atletas da atualidade – muitos deles já assessorados desde a adolescência – mostram jogadores da geração media training, as comemorações de gol no futebol brasileiro parecem se enveredar pela mesma via, saindo como uma produção em série digna do fordismo.

Pelé ficou eternizado pelo soco no ar; Ronaldo, pelo dedo em riste (que nasceu de uma comemoração comercial, diga-se de passagem); Bebeto, pelo "nana nenem" de 1994. A criatividade premia desde os campeões, como o Santos avassalador, que ganhou quase tudo em 2010/11, até os desconhecidos finlandeses do Stjarnan, que ganharam o mundo em 2010 com coreografias inusitadas. Fico do lado do inesperado, assim como o brasileiro Marcello Matrone, atacante do HIK da Finlândia (abaixo).