31.8.10

A ilusão dos Estaduais

Faltando apenas duas rodadas para o fim do primeiro turno, a classificação na tabela do Campeonato Brasleiro traz um fato interessante: dos quatro times que ocupam atualmente a zona do rebaixamento, três são campeões estaduais: Grêmio, Atlético-MG e Atlético-GO, por Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás, respectivamente. No G-4, apenas o Santos, por São Paulo.

O assunto já foi tratado aqui e em muitos lugares, mas é sintomático: para que servem os Estaduais? Para manter as equipes menores jogando? Para arrecadar dinheiro? Para iludir o torcedor? Talvez todas as alternativas tenham um pouco de verdade.

Mas algo precisa ser feito. Se continuar do jeito que está, o futebol brasileiro não vai evoluir com a velocidade desejada e/ou necessária. Sei que simplesmente acabar com os estaduais é difícil, envolve muitos fatores, mas ao menos uma mudança precisa ser colocada em prática. Talvez a volta dos regionais, como o Sul-Minas, o Rio-São Paulo, Copa do Nordeste e afins, que já provaram ser interessantes. Os times pequenos podem continuar participando, já sairia da mesmice que são os estaduais.

Em alguns lugares, como em São Paulo, vez ou outra aparece um time pequeno para causar surpresa, já que o nível do campeonato é relativamente superior aos demais. Mas ainda sim é muito raro algum time grande deixar de ficar com a taça. E o torcedor, que vê seu time ganhar, acha que está tudo lindo e que seu time é bom e vai brigar por todos os títulos. Ele passa três meses do ano curtindo a vitória, brincando com o rival, e os últimos oito sofrendo. Será que vale a pena?

28.8.10

O Robben que não deu certo

Originalmente redigido para o Olheiros

Para vencer no futebol, são necessárias uma série de probabilidades. Ter técnica, passar por uma boa formação na base e estar na hora certa e no lugar certo são algumas delas. O holandês Jordi Hoogstrate tinha tudo para estourar, assim como seu parceiro de base, Arjen Robben – recentemente, vice-campeão da Liga dos Campeões e da Copa do Mundo – que já passou por grandes clubes, como Chelsea, Real Madrid e Bayern de Munique.

Porém, seguidas contusões no joelho e diversos problemas de ordem psicológica abreviaram a breve carreira deste meio-campista com apenas 25 anos de idade. Mesmo com toda a dor que o futebol lhe causou, a paixão pelo esporte falou mais alto: Hoogstrate se tornou treinador das categorias de base do Groningen, time de sua cidade natal e que o revelou.

Parceria de sucesso

Hoogstrate iniciou sua carreira em clubes menores da região onde nasceu, como o LTC Assen e o Annen. Depois, rumou para o próprio Groningen, clube que já revelou talentos do quilate dos irmãos Erwin e Ronald Koeman, além de Arjen Robben. Definitivamente, uma porta de entrada para jogadores que iniciam sua carreira no continente europeu. O uruguaio Luis Suárez, que fez sucesso na última Copa do Mundo, é o exemplo mais recente disso.

Robben e Hoogstrate subiram juntos para a equipe profissional, com o hoje jogador do Bayern sendo apenas seis meses mais jovem que o colega. A dupla logo se destacou na temporada 2000/01, na qual Hoogstrate fez sua estreia em março, em um jogo da Eredivisie diante do NEC Nijmegen. O primeiro gol viria apenas na temporada seguinte, em dezembro, diante do FC Utrecht.

Apesar da temporada irregular de sua equipe, Hoogstrate e Robben logo chamaram a atenção dos grandes clubes do país. Os torcedores do clube os elegeram como os jogadores do ano. Ironicamente, seria a melhor e mais consistente temporada do hoje eterna promessa, que realizou 24 jogos e marcou dois gols (os únicos durante sua carreira na liga holandesa).

E como siameses, ambos foram vendidos para o poderoso PSV Eindhoven por cerca de 7 milhões de euros. A chegada nos Boeren dariam guinadas direcionalmente opostas em suas carreiras. Robben arrebentou e logo foi vendido por cifras estratosféricas ao milionário Chelsea. Já Hoogstrate não aguentou o tranco de estar em uma equipe grande. Problemas psicológicos fizeram com que ele só atuasse em cinco partidas."Por causa de todos os reveses, a doença e as lesões que ele ficou um pouco deprimido", disse à época o treinador. A declaração confirma que os problemas tiveram início ainda em seu clube formador.

Corpo e cabeça padecem

Em 2004/05, se cogitou que Hoogstrate iria encerrar a carreira por conta de tais problemas, mas o PSV interferiu na decisão e tentou ajudá-lo na recuperação da enfermidade. O talentoso holandês não entrou em campo oficialmente uma vez sequer naquela temporada. Com isso, a equipe de Eindhoven resolveu emprestá-lo para o FC Emmen, a fim de lhe dar confiança e experiência. Mas para infelicidade do atleta, houve uma grave contusão no joelho durante a pré-temporada pela nova equipe. Assim, ele acabou completando a segunda temporada consecutiva sem entrar em campo.

De volta ao Emmen, na temporada seguinte, Hoogstrate conseguiu realizar apenas cinco partidas, parando com a bola por conta do agravamento da velha lesão. No retorno ao PSV, ele começa a desenvolver outras atividades relativas ao futebol, sem propriamente ser um atleta. Primeiro, como massagista, e depois se interessando em ser treinador - com apenas 24 anos da idade. Infeliz no PSV, o ex-jogador resolveu testar suas novas aspirações no Groningen, que prontamente lhe deu o cargo de treinador das categorias de base.

A última cartada de Hoogstrate como jogador profissional aconteceu em 2008, quando se preparava para voltar à vida de atleta. Contudo, como em um enredo macabro, seu corpo não aguentara o forte ritmo de um profissional. Resultado: nova lesão no joelho e o anúncio da precoce aposentadoria como jogador, em março de 2009. Atualmente, voltou a dedicar-se à vida de treinador de futebol no Groningen.

Breve passagem pela Oranje

Apesar da carreira breve, Hoogstrate atuou ao lado da geração que recentemente sagrou-se vice-campeã mundial na África do Sul. Na época da entressafra de jogadores – depois do bom time que chegou às semifinais da Copa de 1998, a equipe não se classificou para o torneio seguinte – o meia foi testado, assim como Robben. Jogou a fase eliminatória do Europeu Sub-19, em 2001, e do Sub-21, em 2003. Fazia parte da equipe considerada olímpica, que ficou de fora dos Jogos de 2004, em Atenas. Atuou ao lado de companheiros como Stekelenburg, Van Persie, Sneijder e De Jong, por exemplo.

O futebol dá muitas voltas. Mas se a carreira de Hoogstrate seguisse o curso considerado “natural”, não seria nenhum absurdo pensar que ele poderia ter feito parte da seleção holandesa que esteve no continente africano para a última Copa. Talento para tal, ele mostrou tanto quanto Robben, que ironicamente, também sofreu por um bom tempo no Chelsea e no Real Madrid com diversas contusões – nada comparáveis ao de seu velho colega, obviamente. Nesse quesito, podemos dizer que o camisa 11 da Holanda foi mais afortunado que o colega Hoogstrate.

26.8.10

Parcela de felicidade

Estranho familiar: Ronaldinho recebe homenagens no Camp Nou, no qual brilhou intensamente

Mais do que uma simples disputa de um torneio festivo da pré-temporada europeia, o encontro entre Barcelona e Milan, nesta última quarta, na Catalunha, marcou o reencontro de Ronaldinho e o Camp Nou, palco de algumas das mais mágicas apresentações do meia brasileiro no futebol. Na época, era quase que unanimidade dizer que Ronaldinho atingiria a excelência de um Maradona ou mesmo de um Zidane. O título europeu de 2005/06 apontava tal caminho. Mas aí veio o fracasso da Copa de 2006 e o mago perdeu os poderes.

Enquanto Ronaldinho procurava motivação numa transferência para o Milan, o Barcelona continuou ganhando tudo sem ele. E um certo Messi vem mantendo a magia da camisa 10 do Barça, que se mostra cada vez mais avassalador sob o comando de Pep Guardiola.

Mesmo passados dois anos desde que encerrou sua passagem pelos blaugranas (onde ficou de 2003 a 2008), Ronaldinho pôde sentir que os momentos que ele proporcionou no templo culé jamais foram esquecidos. Por ele e pelos torcedores catalães. Em carta aberta antes da partida, o meia falou abertamente de sua paixão pelo clube e que vivera ali os melhores momentos de sua vida profissional e pessoal. E muito de seus companheiros da época de Barça vieram saudá-lo, como o capitão Puyol, que convidou Ronaldinho para posar na foto oficial com a equipe.

E lhe deu o troféu do torneio – vencido pela equipe espanhola nos pênaltis – ao brasileiro, visivelmente emocionado com o carinho de todos. O craque, em baixa nos últimos tempos, voltara a sorrir espontaneamente em campo. Cena rara desde que deixou a Catalunha.

Mas como toda festa tem que ter um penetra, o veterano e eficiente Filippo Inzaghi, 37 anos, fez um gol digno de Ronaldinho: um voleio fantástico (vídeo abaixo), em lançamento não menos habilidoso do também experiente Seedorf, 34. Com “apenas” 30 anos, bem que o craque brasileiro poderia voltar a se inspirar para produzir lances mágicos dentro de campo. O futebol agradece.


23.8.10

A permanência de Neymar: excelente

O fim da novela envolvendo a transferência de Neymar para o Chelsea, com a permanência do atacante no Santos, foi sensacional. Realmente é uma mudança de paradigma ver o garoto recusar, mesmo que por um breve período, os muitos milhões do time inglês para ficar no time de coração.

Que realmente sirva de exemplo. Neste momento, deixar uma condição de ídolo e craque, de reverência nacional, para ir brigar por posição num país como a Inglaterra, e no Chelsea, não seria mesmo o mais sensato. Neymar ainda tem muito que evoluir. A pouca idade, apesar de não ser uma barreira, também atrapalha. Aliás, isso é outro ponto que dá pra discutir - impor uma idade mínima para transferências para o exterior.

Elogiável também a postura do Santos, que fez a mesma coisa com Robinho, quando este quis se transferir para o Real Madrid. Para quem não se lembra, o jogador, que passou por maus momentos na Europa e quase implorou para voltar ao alvinegro praiano nesta temporada, fez até uma "greve", sumindo dos treinamentos. Mas os santistas só o liberaram quando o clube espanhol pagou o total da multa recisória. Ora, os europeus têm dinheiro, e muito! É muito simples: se eles querem um atleta, que paguem o valor da multa, não tem erro.

Outra coisa em comum é o agente Fifa, como gosta de lembrar, o grande profissional Wagner Ribeiro. Desta vez, ele teve azar. Mesmo convencendo o pai de Neymar, o garoto não quis a mudança. Contou a favor também para a sua permanência o clamor nacional: Pelé, Mano Menezes, Dorival Júnior, o presidente Luis Álvaro, a mídia e a torcida.

O futebol brasileiro, aos poucos, começa a acordar para ter uma administração mais profissional, a manter os seus principais jogadores, a realizar jogadas de marketing. Claro que não é possível chegar ao mesmo patamar da Europa, mas é muito razoável crer que é possível diminuir a distância, para pelo menos retardar a saída dos valores brasileiros ou, pelo menos, os fazer pensar duas vezes antes de assinar com qualquer equipe somente por causa da questão financeira. Na minha opinião, a permanência de Neymar foi sensacional: para o Santos, para a torcida, para quem gosta de futebol e para mudar um paradigma.

19.8.10

Festa no Gigante

Leandro Damião foi relacionado para a final nos últimos momentos,
mas saiu da reserva e marcou o tento da virada


Justo. Talvez essa seja a melhor palavra que possa definir o bicampeonato conquistado pelo Internacional, na noite desta quarta-feira. Mesmo na adversidade, quando viram o Chivas abrir o placar, os gaúchos diminuíram o nervosismo em campo e reverteram o panorama da finalíssima com gols de Sóbis, Damião e Giuliano (olho nele, habilidoso, pode tornar-se um grande jogador num futuro breve).

Dono de uma campanha irregular durante a primeira fase do torneio, mostrando muita competência no Beira-Rio e absoluta falta de criatividade fora de seus domínios, o Colorado usou, e muito bem, a parada na época da Copa para reforçar seu elenco com inteligência. Modificou assim, o seu estilo de jogo e iniciou um futebol muito mais coeso.

Méritos para o outrora pé-frio Celso Roth que substituiu o competente, mas retranqueiro Jorge Fossati. O 3-6-1 burocrático do uruguaio que sobrecarregava D’Alessandro na armação deu lugar a um moderno 4-3-2-1, com Taison caindo pelos flancos e com os volantes Guiñazú e Sandro tendo uma liberdade muito maior para apoiar.

Além disso, os três contratados do Colorado também contribuíram para a melhoria da equipe. Incansável, Tinga renovou o fôlego do meio-campo; Renan, por sua vez, não é genial, mas é bem mais seguro que o atabalhoado Pato Abbodanzieri. Até mesmo Rafael Sóbis, longe de seu auge, mostrou estrela quando entrou no decorrer da campanha.

E graças a esse novo espírito demonstrado principalmente nas partidas longe de Porto Alegre, o Inter eliminou seus rivais um a um, marcando importantes gols no caminho rumo ao título. O melhor é que mais uma vez vemos o caneco ficando nas mãos da equipe que, mesmo dentro de suas limitações, priorizou o futebol ofensivo e ousado atacando seus oponentes, diferentemente de São Paulo, Corinthians ou Flamengo...

18.8.10

Quarto ano

A vida anda cada vez mais atribulada e os compromissos profissionais e pessoais parecem apenas aumentar. Ainda assim, este espaço resiste e, por consequência, celebra o seu quarto aniversário de existência. E só ver o quanto evoluímos desde a nossa primeira postagem e o monte de coisas que foram proporcionadas para nós através do Opinião FC.

Que continuemos a seguir em frente. Com o apoio de muitos de vocês que visitam este espaço.

16.8.10

Calvário e esperança

Brigando pela ponta do Campeonato Brasileiro, o Corinthians vê o bom Fluminense de Muricy Ramalho abrir quatro pontos de vantagem sobre o alvinegro. Mesmo controversa do ponto de vista da arbitragem, faltou ao Corinthians um camisa nove de ofício para concluir as chances de gol perdidas. Faltou Ronaldo.

Enquanto o Flu tem Fred (em recuperação de lesão), Washington e Emerson, o Timão sofre com as contusões de Dentinho e do ineficiente Souza. Mas acima de tudo, a torcida espera ansiosamente pela volta do Fenômeno, que não joga uma partida há mais de três meses, desde a estreia no Brasileirão, em maio.

As imagens de Ronaldo treinando contra a equipe sub-18 correram o mundo e não mostravam um jogador que simplesmente estava fora de forma. Mostravam um ex-atleta em atividade, daqueles que disputam partidas beneficentes todo final de ano. Após as criticas de todos, ele prometeu dar a volta por cima, em mensagem postada no Twitter e Adílson Batista adiou sua volta em 15 dias.

A situação é diferente em relação a chegada do craque, no início de 2009. Na oportunidade, ele também havia sido criticado pela “barriguinha”, mas estava em longo período sem atuar por causa de uma grave contusão. E havia a motivação dele em provar que podia brilhar em sua volta ao país, do qual saiu ainda muito jovem. Motivado e acolhido pela torcida, Ronaldo foi uma das principais peças do time arrasador do primeiro semestre de 2009, campeão paulista e da Copa do Brasil. A partir daí, salvo em alguns jogos, Ronaldo “deixou” de estar em campo, devido a muitas lesões e cada vez mais fora de forma. Esperava-se que voltasse a explodir na Libertadores de 2010.

Tirando a segunda partida diante do Flamengo, Ronaldo não foi Ronaldo na competição. Time e torcida esperam sua volta. Mas enquanto seus companheiros dão declarações de respeito (e não poderia ser diferente), a imprensa “malha” o atacante. Sendo um dos atletas mais vitoriosos e mais aclamados dos últimos tempos e da história do esporte em geral, R9 não precisa passar por tal Via Crucis. Contudo, o que deve ficar claro é se ele realmente quer (ou pode) voltar a jogar futebol, já que recentemente, seu pai declarou que está cada vez mais difícil para o atacante atuar regularmente, devido as dores, cada vez mais intensas.

Ronaldo se pune, já que diz a todos que deseja voltar a jogar, mas está cada vez mais longe do comprometimento que um atleta profissional deve ter. E também pune ao time e aos torcedores, que ficam na expectativa de que o camisa 9 do primeiro semestre do ano passado volte e salve o time em campo.

13.8.10

Liga Portuguesa: campeonato das esperanças

POR GONÇALO CARDOSO
O Sabor da Palavra

Quis o destino que a Liga Portuguesa começasse numa em plena sexta-feira 13. Para muitos sinónimo de azar, para outros um dia de fortuna, mas superstições à parte, as expectativas para um novo campeonato são sempre grandes pelo prazer do “desporto rei” e pelo investimento realizado.

O Benfica, atual campeão nacional, perde Di Maria para o Real Madrid e Ramires para o Chelsea, demonstrando a boa qualidade da equipa campeã nacional e uma boa gestão de carreira por parte dos jogadores, partindo para clubes de topo. Aparentemente para a vaga do argentino, surge o compatriota Nicolas Gaitán (ex-Boca Juniors) e para o lugar de Ramires procuram-se soluções no Brasil, falando-se insistentemente do nome de Wesley, que se destacou no Santos campeão paulista e da Copa do Brasil. De resto, mantém uma excelente base de trabalho vinda da época passada, destacando-se os nomes de Luisão, David Luiz, Fábio Coentrão, Javi Garcia, Saviola e Cardozo, uma autêntica espinha dorsal de experiência e qualidade, ao qual se acrescentam as apostas jovens e interessantes de Airton (ex-Flamengo), Allan Kardec (ex-Vasco da Gama) e Jara (ex-Arsenal Sarandi). Jorge Jesus é o líder da equipa e promete um ano com dimensão internacional. Mourinho concorda e aposta numa grande Champions dos encarnados.

O Porto assumiu uma renovação da equipe, mudando a estrutura técnica, integrando o técnico André Villas-Boas (ex-Acadêmica) e aumentando o número de opções jovens e de qualidade. Villas-Boas é um técnico muito jovem, colaborador técnico das equipas de José Mourinho e que teve a sua primeira experiência como líder na Acadêmica de Coimbra, entrando a meio da época neste clube de pequena/média dimensão em Portugal. Sendo assim, este será o seu primeiro projeto. Logo com uma carga de responsabilidade enorme, podendo ser a grande desvantagem desta nova fase portista. Enquanto ainda se procura um substituto para o zagueiro Bruno Alves, atualmente no Zennit, adquire-se novos processos com os jovens jogadores emprestados na Liga Portuguesa, como Ukra e Castro, e nas jovens apostas adquiridas a outros clubes, destacando-se Souza (ex-Vasco da Gama), João Moutinho (ex-Sporting), James Rodriguez (ex-Lanús) e Walter (ex-Inter-RS). Por determinar, estará a condição de Hulk. Será mais um teste ao coletivismo deste jogador.

O Sporting, parte teoricamente em desvantagem, pela falta de qualidade da época passada e pelo menor orçamento relativamente aos seus rivais, mas adquire uma filosofia baseada na mistura entre a juventude e a experiência, reforçando-se com jovens jogadores como Zapater (ex-Genoa), Diogo Salomão (ex-Real Massamá), Torsiglieri (ex-Velez) e André Santos (ex-União de Leiria) e acrescentando-os à maturidade adquirida de Maniche, Evaldo e Jaime Valdés. Apresenta também um novo treinador, vindo de bons trabalhos em clubes de pequena e média dimensão e cheio de vontade de mostrar serviço. O trabalho de equipa será fundamental para uma luta contra os milhões dos seus mais directos adversários.

Para fechar, mas não menos importante, devermos contar com o excelente trabalho da equipa liderada por Domingos Paciência, um treinador talhado para clubes de topo, e que vem alimentando as performances do Sporting de Braga, prometendo mais uma grande época para o vice-campeão português.

11.8.10

Olhando para o futuro

Nova Seleção, comandada por Mano: pedra fundamental para 2014 foi muito bem posta

A boa atuação da renovada Seleção Brasileira, comandada por Mano Menezes, diante dos Estados Unidos agradou a todos. O placar de 2 a 0 não refletiu a ampla superioridade dos brasileiros. Mesmo atuando em terras estadunidenses, o time formado quase que inteiramente por novos talentos criou boas chances de gol. Mais do que isso, a equipe tocou a bola com qualidade desde a defesa, produzindo variadas alternativas (gol de Neymar depois de cruzamento de André Santos e o de Pato, em enfiada do “volante” Ramires), e foi dinâmica diante de uma seleão que, se não é da elite do futebol mundial, está longe de ser ingênua – como Zimbábue e Tanzânia, adversárias pré-Copa de 2010.

O que se viu, além da aprovação ao primeiro teste, foi um rancor de muitos torcedores (principalmente via redes sociais) para com Dunga, lembrando-se do fato de ele não ter levado consigo a dupla Ganso/Neymar para a África do Sul. A boa atuação dos santistas trouxe à tona um sentimento até de vingança contra o ex-treinador, que acho precipitado. O que prega Mano é que olhemos adiante, visando 2014. Para trás, apenas para tentar não cometer os mesmos equívocos.

Como é de praxe do novo comandante da Seleção, ele deve frear toda a euforia dos torcedores. O que é correto, já que este é apenas o primeiro passo rumo ao Mundial em nosso quintal, que será ainda mais cercado de expectativas em relação ao de 2010. Mas foi prazeroso ver a equipe atuar como um verdadeiro conjunto (na acepção da palavra), com jogadas pelas laterais, com Daniel Alves e André Santos, armadas pelos volantes e constantemente pensadas por Ganso e a intensa movimentação de Neymar – que quando deixa a marra de lado, joga demais, caso deste amistoso – e de Robinho, com Pato inicialmente mais centralizado, mas nunca estático. O típico avante moderno. Até Victor, em mau momento no Grêmio, foi bem quando exigido pelo pouco produtivo ataque americano, neutralizado em parte pelos rápidos defensores Thiago Silva e David Luiz.

O Brasil que entrou em campo nos Estados Unidos ainda tem um longo caminho a percorrer, tendo seu primeiro real desafio apenas na Copa América, em 2011. Mas como Mano já fez no primeiro semestre de 2009 com o Corinthians, é possível se aliar o talento com o jogo bem jogado. Bem diferente do Brasil do contra-ataque, pautado estritamente no resultado. A geração de 2014 tem enorme potencial, com algumas peças importantes da equipe da Copa de 2010, como Kaká, Maicon e Luís Fabiano, por exemplo, não podendo ser imediatamente descartadas.

8.8.10

Dupla dinâmica

As vitórias voltaram: Invicto há 10 partidas, Muricy luta por seu 4º título

Realizar qualquer tipo de previsão após 13 rodadas disputadas é algo muito difícil, ainda mais se considerarmos que o Campeonato Brasileiro quase sempre primou pelo equilíbrio quando o regulamento tornou-se por pontos corridos.

Ainda assim, o desempenho de dois clubes, em particular, merece ser exaltado. Únicos a alcançar desempenho acima de 70% de aproveitamento, Fluminense e Corinthians, pelo menos por enquanto, sobram na competição.

Diferentemente do que ocorria no Palmeiras, Muricy Ramalho mostra-se totalmente à vontade no comando da equipe das Laranjeiras. Mesmo com um elenco tecnicamente limitado o Flu apresenta belos jogadores como Gum (seguro zagueiro), Conca e Fred. Aliados a outros nomes esforçados e taticamente importantes, como Diguinho, Émerson e Júlio César, os cariocas formam um time difícil de ser batido. Isso sem citar a ótima contratação de Deco...

No Parque São Jorge o maior receio é saber como os atletas se portarão na ausência de Mano Menezes. Mesmo sendo muito cedo para fazer qualquer análise, até agora, Adílson Baptista não compromete, mantendo a base de seu antecessor. A equipe é rápida, concisa e mortal. Méritos também para as inteligentes contratações de Bruno César e Paulinho, reforços do meio de temporada que sempre correspondem às expectativas quando exigidos.

A discrepância da dupla perante as outras equipes pode ser exemplificada também pelos números. A oito e sete pontos à frente do Ceará (terceiro colocado que ainda não venceu no pós-Copa), Fluminense e Corinthians estão abrindo uma vantagem que poderá ser importantíssima no afunilamento do torneio.

Para melhorar, Internacional e Santos, outras equipes que também se encontram em alta, não deverão disputar o Brasileirão com a mesma vontade, principalmente se os colorados confirmarem o título da Libertadores. E com Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Cruzeiro e companhia apresentando um futebol longe de encantar, a vantagem poderá aumentar ainda mais...

7.8.10

Roupa suja se lava...?

Felipe posta ato de rescisão com o Corinthians pelo Twitter. Discussão na TV foi a gota d'água para sua saída do clube

As redações das mídias esportivas que cobrem o futebol brasileiro (especificamente, o paulista) foram “presenteadas” recentemente. Isso porque, além das notícias rotineiras sobre os grandes de São Paulo, viu acontecer dois fatos de grande repercussão no meio de forma muito rara na última semana: discussão de atletas com dirigentes ou torcedores por meio dos próprios veículos.

Primeiro o caso do Santos. Pouco antes de fazer a dobradinha do primeiro semestre ao vencer a Copa do Brasil, a discussão entre atletas do clube, torcedores e entre os próprios jogadores via Twitcam, um serviço do Twitter que permite aos usuários do microblog interagir a partir de uma transmissão de webcam.

Na transmissão, aparentemente inocente, feita depois da vitória sobre o Grêmio Prudente pelo Brasileirão, Madson, Zé Eduardo, Zezinho, Alan Patrick e Felipe brincavam com os usuários até o goleiro reserva perder a mão ao ser chamado de “mão de alface”. “Aí parceiro, não f... O que eu gasto com ração de cachorro é o seu salário", disse Felipe, que apesar de falar o que todo mundo já sabe, o fez em tom de humilhação ao crítico. O fato desencadeou a ira de quem estava acompanhando a transmissão, além de evidenciar que o clima festivo entre os jovens santistas não é tão festivo assim, já que depois, Zé Eduardo insinuou que Robinho – prestes a retornar ao Manchester City – não faria falta no elenco santista.

Alguns podem creditar o episódio a juventude do elenco, mas não parece tão simplório assim. Mostra que o jogador de futebol, em grande parte, sai do ostracismo e da pobreza em trajetória meteórica e muitas vezes, não tem ou não é preparado para tal. Fora a proporção que tomou o fato, já que a internet pipocou vídeos das declarações dos jogadores – que desmentiram os fatos, mas sem convencer ninguém. O encanto pelo bom futebol mostra que o elenco santista não deve se dar tão bem assim, já que antes da tal transmissão, já havia vazado à imprensa a briga entre Wesley e Robinho, que brigaram após uma brincadeira, supostamente inocente.

Outra veiculação que causou grande polêmica foi a discussão entre o goleiro Felipe, do Corinthians, e o presidente do clube alvinegro, Andrés Sanches. O arqueiro estava afastado após uma negociação frustrada com o Genoa, onde ele teria forçado sua saída do clube – muitos disseram até que o goleiro teria abandonado a concentração por conta da transferência.

A troca de farpas entre o goleiro e a direção do Timão já vinha sendo feita através de notas oficiais divulgadas à imprensa. Mas quando os dois estiveram “frente a frente” na transmissão do Jogo Aberto, programa esportivo da Band, o racional seria que ambos se calassem e tivessem a tal conversa em um lugar privado. Contudo, debateram em rede nacional, trocando acusações e mostrando a mágoa das partes com o episódio. Resutado: Felipe fez questão de postar foto do ato em que ele rescindia contrato com o clube (que defendia há pouco mais de três anos) e divulgou uma última nota oficial – criticando novamente o presidente.

O fim melancólico é fruto da má condução das duas partes: Felipe, mal assessorado, não se envolveu em uma polêmica como essa pela primeira vez – fez algo semelhante quando estava valorizado, apesar da queda da equipe à Série B, em 2007, quando tentou ir para o Fluminense. O Corinthians, que desvalorizou seu patrimônio e perderá dinheiro com a saída do goleiro, que apesar das polêmicas, é um dos melhores do Brasil em sua posição. Ao expor a discussão entre goleiro e o presidente na mídia, qualquer outro tipo de desfecho tornou-se inviável.

O velho ditado de que “roupa suja se lava em casa” nunca caiu tão bem em ambos os casos, que mostram a falta de preparação de jogadores e dirigentes em lidar com crises e com a imprensa, apesar da parafernália usada para assessorá-los de tais entreveros.

4.8.10

Como desvalorizar a Libertadores?


A inédita classificação do Chivas Guadalajara para a final da Copa Libertadores, após a vitória por 2 a 0 sobre a Universidad de Chile nesta terça-feira, no Estádio Nacional, em Santiago, no Chile, garantiu pela segunda vez na história da competição a presença de um mexicano na decisão do torneio, assim como em 2001, quando o Cruz Azul representou o país na disputa contra o Boca Juniors. Dessa forma, quem passar do confronto entre Internacional e São Paulo já está garantido no Mundial de Clubes da Fifa, no final do ano.

Isso porque a equipe mexicana pertence à Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe) e joga a Libertadores como convidada. Ou seja, não pode representar a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) no Mundial. Aí vem a pergunta: vale a pena chamar equipes "de fora" para disputar a competição? Um título do Chivas, independente de ser contra um brasileiro na final, não tira o brilho da Libertadores? Eu acredito que sim.

Em busca de uns trocados, a Conmebol aceita a participação dos mexicanos na mais importante competição da América do Sul. Vale dizer que, nesse ponto, e também em termos de organização, a Conmebol é exatamente igual a CBF. Há nove anos, o Boca evitou que o título ficasse em mãos mexicanas. Inter ou São Paulo terão o mesmo objetivo nesta temporada. O que desvaloriza a Libertadores.

Falamos tanto da Liga dos Campeões da Europa, do seu potencial, do seu retorno, e por causa das maluquices realizadas por aqui, a nossa disputa continental vira essa bagunça. É uma regulamento que permite a inscrição de jogadores para as semifinais (nem entrando no mérito da CBF ter antecipado a janela de transferências)! É cartão que não rende suspensão, mas dinheiro para a federação! São coisas como essas que respondem ao questionamento do título.

Caso não saiam vitoriosos contra o Chivas, um brasileiro irá disputar o Mundial de Clubes sem haver vencido a Copa Libertadores, assim como aconteceu com o Corinthians, em 2000. Como a competição foi realizada no Brasil, o time alvinegro entrou como convidado e acabou sendo campeão - o que não tira o seu mérito. Vale acrescentar também que o representante da Conmebol no torneio foi o Vasco, campeão da Libertadores em 1998, e não o Palmeiras, vencedor em 1999. O motivo é difícil explicar. A não ser que você considere as tradições da Conmebol e da CBF. Aí sim, tudo é possível.

1.8.10

Como explicar?

Até a parada para a Copa do Mundo, o São Paulo estava jogando bem, vencendo e convencendo os seus torcedores. O ponto de virada da equipe foi a chegada de Fernandão, antes da primeira partida das quartas de final da Copa Libertadores, diante do Cruzeiro. Daquele jogo atá a pausa para o Mundial, foram oito partidas, com apenas duas derrotas (uma com o time reserva), incluindo as duas vitórias sobre o time mineiro e uma sobre o Internacional, no Beira-Rio.

Chegou a Copa da África, todos na torcida pela Seleção Brasileira. A equipe de Dunga decepcionou, a Espanha encantou e tornou-se campeã do mundo. Os olhos se voltaram para o Brasil e o seu torneio mais importante. E então, uma pane. O Tricolor Paulista parou. Até a partida contra o Ceará, neste sábado, haviam sido três derrotas e um empate no Brasileiro, e uma derrota para o Inter, pela Libertadores. E esta não foi um simples resultado negativo: foi um massacre. O time colorado dominou e só não goleou porque Rogério estava numa noite inspirada e por causa da qualidade da defesa do São Paulo, que sofreu apenas o terceiro gol em 11 jogos.

Como explicar essa mudança tão grande? O técnico Ricardo Gomes é criticado pela torcida e aparentemente já não conta com o apoio da diretoria do clube, tendo o cargo muito ameaçado. O tempo parado por causa da Copa foi preenchido de que maneira? Quando o elenco é fraco, o time vai mal nas competições, isso é fácil de perceber. E acontece com grandes times, vide o número de grandes do futebol brasileiro rebaixados nos últimos anos.

Mas não é o caso do São Paulo. O treinador é sempre o bode expiatório para a má fase de um clube, mas no caso de Gomes, não é sem razão. O time parece não ter nenhuma estrutura, um padrão. Para passar pelo Inter, no estágio atual, será preciso muita sorte. Talvez com a ajuda de uma jogada de bola parada. Pela qualidade dos gaúchos e pela vantagem de não terem sofrido gol no Rio Grande do Sul, são favoritos.

A vitóra diante do Ceará por 2 a 1 deu um alento para o torcedor são-paulino. Mas é bom que se lembre que o mesmo resultado seria insuficiente para a classificação para a final na partida de volta da semifinal da Libertadores, na próxima quinta-feira.