26.12.07

Lar doce lar?

Ronaldo e Adriano, em 2006: Será que a dupla voltará a se enfrentar em gramados brasileiros?

No ano da Copa, em 2006, quem imaginaria que a dupla de ataque da Seleção poderia jogar no Brasil? E sem a desculpa de encerrar a carreira por cansar de perambular na Europa? Pois então, dois lados do falecido “quadrado mágico” podem marcar a sua volta para o Brasil. Adriano e Ronaldo poderiam deixar de fazer o dérbi de Milão para se enfrentarem na rivalidade regional entre São Paulo e Flamengo.

Adriano já é realidade no Morumbi. A diretoria tricolor já lhe deu a dez e deposita muita esperança no Imperador, para fazer bonito na Libertadores, principal objetivo do clube no semestre. Para o atacante de 25 anos, um recomeço após uma queda vertiginosa, após ter sido cotado como possível melhor do mundo entre 2004 e 2005, quando atingiu o melhor da sua forma técnica e física na Inter. Mesma Inter para a qual o carioca foi vendido em 2001 e posteriormente foi emprestado para a Fiorentina e para o Parma (onde chamou a atenção dos nerazzurri, ao marcar 23 gols nas duas temporadas pela equipe gialloblu). Após conquistar a Copa América e a Copa das Confederações pela Seleção, chegou muitíssimo bem cotado para a Copa da Alemanha.

Após o fracasso brasileiro na competição máxima do futebol, Adriano teve uma queda brusca na carreira, tanto dentro quanto fora das quatro linhas. Além da escassez de gols – chegou a ficar nove meses sem marcar um gol oficialmente, tabu quebrado em dezembro de 2006 – as baladas extra-campo e os problemas pessoais não deixavam o Imperador reinar como antes. O tratamento no REFFIS tricolor abriu as possibilidades para a Inter fazer Adriano jogar (pois no mar de atacantes que a equipe dispõe hoje, Adriano, nas atuais condições não teria espaço) e para o São Paulo contar com um renomado atacante matador de ofício, já que Dagoberto ainda não atingiu o auge dos tempos de Atlético/PR e Aloísio não é nenhuma referência em gols.

Já o caso de Ronaldo ainda não é concreto. No entanto, as especulações estão ficando mais fortes e o Fenômeno poderia ter chances mais constantes de se recuperar e jogar no Rio de Janeiro, cidade de origem do jogador e da qual ele nunca escondeu que gostaria de voltar. Principalmente para atuar com a camisa do Flamengo. No mesmo ponto de decadência de Adriano – a Copa de 2006 – Ronaldo foi preterido por Nistelrooy no Real Madrid. Veio como esperança ao Milan, onde chegou com pinta de resolver os crônicos problemas de ataque rossoneros. Contusões e tratamentos obscuros fizeram com que Ronaldo pouco atuasse pelo Milan (em apenas 15 jogos desde janeiro de 2007, marcou sete gols).

Mesmo com a negociação de Ronaldo longe de se concretizar, é irônico vê-los numa situação tão incomum no futebol tupiniquim. Atualmente jogadores não precisam nem ser craques consagrados para deixarem o Brasil, como o excelente zagueiro Breno, por exemplo. Contudo, para o futebol brasileiro, é uma vitória ver jogadores como eles voltarem, sem precisar de muletas ou da caridade dos zagueiros adversários para conseguirem jogar decentemente num futebol nacional tão carente de atacantes de qualidade e de nome.

23.12.07

Os opostos se atraem na Champions

No sorteio, o painel mostra os confrontos entre italianos e ingleses, que vivem fases distintas nesta temporada.
As bolinhas já rolaram nos bastidores da UEFA e os oito confrontos da fase final da Champions League já estão definidos. Dois deles, envolvendo clubes ingleses e italianos são os confrontos mais esperados e possuem uma particularidade curiosa: Frente a frente estarão os líderes da Serie A e Premier League contra grandes que não fazem boas ligas locais. Mais do que isso, a boa fase de Arsenal e Inter esbarra na falta de tradicionalidade de ambos na Champions – o Arsenal nunca chegou ao posto mais alto da Europa, enquanto a última conquista da Inter na competição data da longuínqua temporada de 1964/65. Em contrapartida, Milan e Liverpool somam 12 títulos na principal competição de clubes da Europa (sete do Milan e cinco do Liverpool), sendo que ambos se enfrentaram na final da competição em duas das três últimas temporadas. Por isso, o prognóstico é mais dificil. O bom futebol não é o bastante para avançar na fase mata-mata, numa competição como a Champions. É preciso ter tarimba, malicia, conhecer os atalhos. Ingredientes que, com certeza, apimentarão esses duelos Itália X Inglaterra. Ou tradição X bom momento.

Inter X Liverpool

Em 17 jogos do Calcio, a Inter ainda não conheceu a derrota. Lidera com sete pontos sobre a Roma e caminha firme rumo ao bicampeonato Italiano. Mas quando tratamos de Champions, a Inter acumula decepções. Nas últimas três edições, fez boa primeira fase, mas decepcionou nos confrontos eliminatórios, sendo eliminados pelo arqui-rival Milan e pelo Valencia (duas vezes).

O outro lado da moeda mostra o Liverpool, finalista de duas edições apenas nesta década (2005 e 2007). Um time copeiro, malandro e que fez muitos investimentos nesta temporada. No entanto, penou para se classificar na Champions – ficando em segundo lugar no seu grupo – e com uma decepcionante quinta colocação na Premier League. O trabalho de Rafa Benítez já começa a ser contestado me Anfield Road, pois com tantos craques, os Reds simplesmente não decolam.

Milan X Arsenal

Classificado em primeiro, num grupo sem maiores adversários, o Milan também é copeiro. Prova disso é que a equipe milanista é a atual campeão europeu e mundial. Mas a limitada equipe dirigida por Ancelotti tem dificuldades no Calcio. É apenas o 12º (com três jogos a menos) e vem decepcionando. Extremamente dependente de Kaká, os rossoneros terão, mais uma vez, de torcer mais uma vez por boas atuações do brasileiro. Ou não serão páreos para o Arsenal.

Uma das maiores surpresas desta temporada. Assim vem cotado o Arsenal, recheado de jovens e novidades. Tudo muitíssimo bem arquitetado por Wenger. Após a derrota na final de 2005/06 para o fantástico Barcelona, o time de Wenger é muito mais experiente que à epoca da final em Paris. Jogadores como Fabregas, Hleb, Touré, Clichy, Van Persie e Adebayor estão mais experientes e atrevidos. Nem a perda de Henry – maior jogador da era recente do time londrino – foi capaz de abalar a equipe. Ao contrário do Milan velho “Kakazista”, o coletivo e a juventude são as grandes armas dos Gunners, líderes do campeonato inglês com todo o merecimento e com investimentos modestos, perto dos grandes clubes da Inglaterra.

Ainda faltam quase dois meses para estes confrontos tão esperados, mas é inevitável não pensar nas ironias que esse verdadeiro confronto de opostos traz. O que falará mais alto: experiência ou habilidade?

18.12.07

Incontestável

O prêmio de melhor do mundo da FIFA coroou uma temporada quase que perfeita de Kaká

O que vou escrever aqui já foi escrito e reescrito muitas vezes nesse ano, por diversos jornais em muitos idiomas: A escolha de Kaká como melhor atleta de futebol da FIFA era consenso. Mais do que isso, era totalmente incontestável, como não se via há tempos. Não porque eu ache que ele é mais habilidoso que Ronaldinho Gaúcho, Messi, Cristiano Ronaldo ou seja lá quem for. É incontestável por que, além do milanista estar comendo a bola, foi decisivo para que o Milan obtivesse êxito em competições como a Champions League, Supercopa da UEFA e no Mundial de clubes da FIFA. Maior bastião de um elenco mediano/bom, marca gols e serve companheiros com maestria, como poucos jogadores fizeram com excelência ao longo dos últimos anos. E ao contrário de seus concorrentes, ele levou o time nas costas. O suporte a ele foi bem restrito, algo que não ocorre com os elencos de Manchester e Barcelona, numerosos e de qualidade.

Ele apareceu nos momentos em que todo o time estava bem e também chamou a responsabilidade quando foi preciso. E não deixou a desejar, como pudemos ver nos jogos contra Celtic e Manchester United e nas finais recentes contra Liverpool e Boca. Por isso, a premiação coroou um ano perfeito para o brasileiro, que aos poucos vai exercendo uma liderança natural na Seleção, como já acontece no Milan.

Kaká: Corpo, alma e mais um pouco

Artilheiro e melhor jogador da última Champions League, com dez gols. Bola de Ouro da tradicional France Football. Melhor jogador do Mundial de Clubes da FIFA. Principal jogador do Milan e um dos indispensáveis na bagunçada Seleção de Dunga. Esse é Ricardo Izecson dos Santos Leite, eleito como o melhor jogador do mundo em 2007. A alcunha de “melhor do mundo” lhe cai muito bem. Além dos prêmios, que falam por si só, poderemos lembrar de partidas memoráveis que o brasileiro fez, como no truncado jogo da Champions contra o Celtic – onde fez o gol da classificação – e nas semi-finais da mesma competição, onde detonou o favorito Manchester, que à época, jogava o futebol mais vistoso da Europa. Também foi primordial no Mundial, dando passe para Seedorf marcar o gol na semi-final e acabando com o jogo na final contra os argentinos, dando dois passes e marcando gol. O Milan é Kaká e mais dez, para a sorte do técnico Ancelotti. Jogador rápido, cerebral, de ampla visão de jogo, fortes arrancadas e bons chutes, Kaká tem tudo para ganhar esse prêmio mais vezes, a exemplo de Zidane, Ronaldo e Ronaldinho.

Mesmo contestado por muitos, por não ter participado da Copa América, é peça-chave de uma Seleção que ainda espera que o ex-melhor do mundo Ronaldinho corresponda no Brasil. Como Kaká.

Ricardo Izecson dos Santos Leite
Idade: 25
Clube: Milan
Jogos/Gols em 2006/07: 48 jogos, 18 gols
Títulos em 2006/2007: Champions League, Supercopa da UEFA, Mundial de Clubes FIFA

Messi: No caminho certo

Lionel Messi é uma jóia a ser lapidada. Jogador arisco, de visão de jogo apurada e dribles mortais, o argentino vem crescendo de produção tanto no Barcelona quanto na seleção argentina. Mas penso que a escolha dele como segundo melhor do mundo não foi tão justa. Veio de um ano mediano, assim como todo o Barcelona de 2006. Mas em 2007, alem de excelentes partidas com a camisa blaugrana, vem realizando excelentes apresentações com a sua seleção. Muitos dizem que já não é Ronaldinho o jogador mais importante do Barcelona.

Lionel Andrés Messi
Idade: 20
Clube: Barcelona
Jogos/Gols na temporada: 36 jogos, 17 gols.
Títulos em 2006/2007: Nenhum

Cristiano Ronaldo: Ainda falta um pouco...

Jogador de habilidade incomum. As vezes, sua habilidade é tanta que pode soar como um deboche ao adversário. Este é Cristiano Ronaldo, que vem crescendo de produção aos poucos, cravando seu espaço, tanto no Manchester como na seleção Lusa. Parece-lhe faltar um pouco de maturidade na hora da decisão, mas trata-se de um jogador fora-de-série. No duelo contra Kaká na última Champions, ficou devendo. Mas foi imprescindível, ao lado de Rooney, na conquista do Campeonato Inglês. Foram 17 gols na temporada e a certeza que pode vir muito mais por aí. Falta pouco. Ainda acho que deveria ser eleito em segundo.

Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro
Idade: 22
Clube: Manchester United
Gols em 2006/07: 53 jogos, 23 gols
Títulos em 2006/07: Campeonato Inglês

Na enquete promovida pelo Opinião FC, Kaká também é incontestável: 64 % dos visitantes o elegeram como o melhor. O português Cristiano Ronaldo ficou no segundo posto, com 31 % da preferência. Messi fechou a enquete com 5% dos votos.

16.12.07

Um para o outro?

"Squadra Inglesa": Primeiro desafio de Capello com seleções

Um dos cargos mais cobiçados do mundo do futebol foi novamente ocupado neste última semana: Fábio Capello assumiu o cargo do English Team. O currículo do allenatore italiano o torna altamente capacitado para o desafio. Foi campeão por onde passou - títulos italianos por Milan, Juventus e Roma, espanhol pelo Real Madrid e campeão europeu pelo Milan - mas nem isso faz com que seu nome se torne um consenso no futebol inglês. As principais resitências ao italiano são personalidades do futebol inglês, tais como os técnicos Harry Redknapp (Portsmouth), Gareth Southgate (Middlesbrough) e o ex-jogador da seleção, Paul Ince. Inclusive, Redknapp foi categórico ao diário lusitano Record: "Eles [Federação Inglesa] não precisam de Jurgen Klinsmann ou Fabio Capello. Futebol é gestão de jogadores. Para ser treinador de Inglaterra não é necessário ser-se grande treinador, tem é de se saber gerir."

Mas a entressafra de técnicos ingleses é evidente. Além do fracasso de Steve McClaren, que custou a Eurocopa 2008 a Inglaterra, os treinadores dos principais clubes do país são estrangeiros: Alex Ferguson (Manchester United, escocês), Arsène Wenger (Arsenal, francês), Rafa Benitez (Liverpool, espanhol) e Avram Grant (Chelsea, israelense). Escolhido entre outros nomes estrangeiros - como Mourinho e Hiddink - Capello terá muito trabalho pela frente. Tem a missão de reerguer um gigante ferido e vencer a desconfiança de muitos ingleses e da exigente imprensa britânica.

Penso que Capello tenha condições de fazer sucesso na Inglaterra. Conta com jogadores que podem se adaptar ao seu estilo característico de jogodas equipes que treinou, onde ele forma uma equipe bem compacta, de defesa forte e meio-campistas versáteis. Jogadores como Lampard e Gerrard serão imprescindíveis nesse início de jornada. Marcam, chegam ao ataque com excelência e chutam bem de fora da área. Na frente, Wayne Rooney é referência. Atrás, Ferdinand e Terry são o início dessa espinha dorsal. A excessão de um bom goleiro, talvez a renovação na equipe não seja tão profunda num primeiro momento, até porque Capello deve sentir o que tem primeiro, já que a base não é ruim. A maior mudança será realmente na forma de jogar e na postura do time.

Como no Real, onde Capello enfrentou resitências de diversos lados e foi campeão, o caminho será árduo. Mas o treinador italiano pode consegiur nesse último desafio (segundo ele mesmo) algo que lhe falta na carreira de treinador vencedor que construiu: um êxito com seleções nacionais. Por outro lado, a Inglaterra precisa ganhar um título de expressão a médio prazo, pois hoje figura como grande apenas pela tradição e não pelos resultados recentes no futebol. Seria este o casamento perfeito?

10.12.07

Bravo, Pippo!

Contra o Celtic, o predestinado Inzaghi comemora o 63º gol em competições européias, o que lhe valeu o posto de maior artilheiro em torneios da UEFA.

Não se trata de um jogador trombador, de muita força física. Mas seu tipo físico, apesar de seus 1,81m não favorece todo o esplendor de velocidade e habilidade nata. Mas então, como um jogador que não tem biotipo de matador e nem é um primor da habilidade e velocidade pode chegar à marca de maior artilheiro de competições européias de todos os tempos, superando o lendário artilheiro alemão Gerd Muller? Essa incógnita é Filippo Inzaghi, o Superpippo (Super Pateta, em italiano).

Muitos brincam dizendo que é o atacante que mais fica em impedimento no futebol mundial, mas seus feitos não podem ser ignorados. Qual milanista não lembra de sua doppietta na final da Champions League 2006/07? Mesmo com Kaká sendo o artilheiro e melhor jogador da principal competição européia, o brasileiro ficou em segundo plano naquela final. O faro de gol de Pippo é muitíssimo bem apurado. Prova disso é a bola desviada involuntariamente nele, no primeiro gol daquela final.


No auge de seus 34 anos, vem sendo o atacante de ofício mais eficiente da esquadra rossonera dos últimos anos, tanto pela incompetência de Gilardino quanto pelas seguidas contusões de Ronaldo. E ultimamente, quando Kaká não resolve ou Seedorf não é eficiente, Pippo entra em cena. Como diz o grande marco Van Basten: “Atualmente ele não pode jogar o futebol em sua plenitude. Ele só está sempre no lugar certo”.

Iniciou a carreira no Piacenza, time da cidade onde nasceu. Sem muitas oportunidades na equipe da cidade-natal, ele foi jogar a Série C italiana pela Albinoleffe, onde conseguiu ser um dos destaques da equipe, em 1993. Foi emprestado para o Verona - que na época jogava a Série B – onde fez excelente campeonato após marcar 13 gols em 36 partidas, o que lhe garantiu a possibilidade de atuar novamente pelo Piacenza. De volta a sua cidade-natal, Inzaghi continuou balançando as redes: 15 gols em 37 jogos pelos piacentini. Tantos gols não tardariam para que Pippo começasse a fazer história dentro da Itália, Europa, e depois, do mundo.

Contratado pelo Parma, o atacante marcaria lá o seu primeiro gol dos 127 gols que contabiliza pela Série A (até 09/12), contra o Piacenza, além do primeiro gol em competições européias em setembro de 95, contra os albaneses do Teuta. Mal sabia Pippo que aquele seria o primeiro de uma série que o levaria ao atual recorde de gols em torneios europeus.

Após sua primeira contusão grave no pé (numa pelada com os amigos), Inzaghi acabou perdendo espaço no Parma. E seu destino foi a Atalanta de Bérgamo, onde seria, pela primeira – e única vez até aqui – artilheiro do Calcio, com 24 gols. E de lá, caminharia para sua experiência em um grande clube italiano: na Vecchia Signora, a Juventus.

Estupenda primeira temporada no elenco bianconero. Foram 27 gols em 46 jogos, um scudetto italiano e a Supercopa da Itália. Melhor, só se a Juve não tivesse perdido a final da Champions daquela temporada para o Real Madrid de Mijatovic, autor do gol triunfal. Mas aquela temporada de 1996/97 mostraria o belíssimo entrosamento da dupla Inzaghi-Del Piero, decisiva para os triunfos da Juve na época. Nas quatro temporadas em que esteve entre os bianconeri, balançou as redes por 89 vezes. E muitos consideram aquela época o seu auge técnico e físico, por conta de algumas lesões que limitaram algumas de suas ações no Milan, que posteriormente o contratou numa transação que envolveu o volante Cristian Zenoni.

Se por um lado, as contusões não deixaram Inzaghi ser o matador de outrora, no Milan ele teve a sua época mais vencedora. Mas o início não foi fácil. Mesmo sendo importante no elenco campeão europeu de 2002/2003, Inzaghi foi deveras azarado: contundiu as costas, joelho, cotovelo e o tornozelo.

Sua redenção veio na finalíssima da Champions League de 2006/07. O Milan estava engasgado com o Liverpool por conta da final de Istambul, duas temporadas antes. E o predestinado para vingar os rossoneri só poderia ser ele. A bola o “encontrou” após a cobrança de falta de Pirlo. E depois, Pippo se posicionou bem ao receber passe açucarado de Kaká para marcar o gol do título.

A maneira como ele vibra após os gols impressiona. Toda a habilidade que lhe falta em alguns momentos ele compensa com o coração, a raça. Não há bola perdida. E, principalmente após o retorno da série de contusões que lhe acometeu, parece-me que cada gol comemorado é o último, tamanha a intensidade e a emoção que sua expressão nos passa.

Ao marcar o gol contra o Celtic, nesta semana, Pippo garantiu seu lugar na história. O 63º gol de sua carreira em competições européias deu o lugar na história do futebol europeu a um jogador muito esforçado. E que esforço!

Pela Azzurra, participou de três Copas (1998, 2002 e 2006). Fez parte do elenco campeão na Copa da Alemanha, deixando sua marca na fase de classificação, contra os tchecos. Ainda se sagrou campeão europeu sub-21, em 1994.

Podem falar o que quiser dele. Mas é inegável dizer que Pippo é predestinado e tem cheiro de gol.

9.12.07

Corta a cabeça dele, corta a cabeça dele...

Neste término de temporada nacional as equipes tupiniquins especializaram-se em fazer várias contratações. Atletas? Não. Treinadores...

A decapitação iniciou-se no recém-rebaixado Corinthians. Após um 2007 terrível em que várias uma faxina geral em seu departamento técnico, trazendo nomes promissores como o de Antônio Carlos ou renomados (caso de Joaquim Grava). confusões e crises internas culminaram com o vexaminoso, porém esperado, descenso alvinegro, a nova diretoria parece ter aprendido. O time do Parque São Jorge fez boas compras.

No banco de reservas, ótima troca. Sai o contestado Nelsinho Baptista, técnico de 2ª mão que muito contribuiu para este insucesso (já que deixou o time muito vulnerável, com um fraco sistema ofensivo que oferecia pouca diversidade de jogadas) para a entrada do vitorioso Mano Menezes, técnico que recolocou o Grêmio entre os principais esquadrões do país. Na atual conjuntura, não havia nome melhor.

Já o Palmeiras, clube que nem se encontra numa situação tão ruim assim, também seguiu os mesmos passos do arqui-rival e demitiu Caio Júnior. Apesar de Caio ser um bom treinador, o acúmulo de maus resultados em momentos cruciais fez com que seu relacionamento ficasse desgastado. Além disso, pesou a falta de experiência do técnico, que cometeu vários deslizes e que ainda não é um exímio escalador.

O fracasso na tentativa de conquistar uma das quatro vagas para a Copa Libertadores de 2008 foi a gota suficiente para derramar toda a água do balde. Mesmo assim, concordo com o torcedor quando ele diz que de nada adianta demitir Caio Júnior para trazer Dorival Júnior, ex-São Caetano e Cruzeiro. Ambos inexperientes...

Se a saída de Caio foi boa para o Verdão, esta decapitação foi ainda melhor para o Goiás. Sob a batuta do treinador deve galgar melhores dias em 2008 para reencontrar o caminho das vitórias e conseguir brigar, ao menos, por uma vaga na Sul-Americana.

Engana-se quem pensa que a dança das cadeiras só ocorre em São Paulo. No Rio de Janeiro, o Vasco surpreendeu todo mundo e decidiu efetivar Romário como o mais novo treinador-atacante da equipe durante toda a Taça Guanabara, no mínimo. Se vai dar certo ou não, eu não sei, mas certamente é uma grande homenagem ao Baixinho. E convenhamos: ser melhor do que Valdir Espinosa não é muito difícil...

Minas Gerais vive um momento de trocas. Na impossibilidade de fechar com Leão, que pediu um salário muito alto, o Atlético Mineiro foi inteligente e trouxe do Sport o regular Geninho, que pode não ser brilhante, mas que dificilmente deixa a desejar. Enquanto isso, o Cruzeiro vacilou, trocou seis por quatro.

Até entendo quando os diretores pensam que Dorival Júnior não tem a qualidade suficiente para comandar a Raposa na Libertadores, mas Adílson Batista assusta-me. Nunca vi ele realizar nada de excepcional em todos os clubes que passou. Tomara que eu esteja errado, mas Adílson é treinador de time pequeno, no máximo mediano.

E ainda vem mais por aí. Wanderley Luxemburgo não dá mostras de estar muito contente no Santos. O próprio Dorival, apesar de sua preferência pelo Palmeiras, também está sem clube. Será que ainda sobram algumas vagas para Leão, Márcio Araújo, Valdir Espinosa e Nelsinho Baptista? Bem, é melhor “os professores” se cuidarem, pois a temporada de caça às cabeças está totalmente aberta...

3.12.07

Herança Maldita

Corinthians cai: Muitos culpados e muito trabalho pela frente.

O ano mais negro da história do Corinthians teve um desfecho mais do que previsível: O descenso para a segunda divisão. O Timão não está pagando este preço alto apenas por ter formado um time limitadíssimo, mesclando jovens promessas a jogadores questionáveis. Está pagando caro por toda a conivência da nebulosa parceria com a MSI.

Culpados? São muitos, começando por Alberto Dualib. O ex-ditador-presidente (apesar de ter conquistado muitos títulos presidindo o clube) jogou todo seu esforço por lama ao dar carta branca para o duvidoso dinheiro procedente da MSI. Esse dinheiro sem pátria comprou todo o time campeão de 2005, mas depois cobrou seus juros após a eliminação da Libertadores de 2006, onde o sonho prometido pelo iraniano Kia Joorabichian de transformar o Corinthians no number one naufragou e as rusgas com os dirigentes do clube começaram a se escancarar. Desde 2006 o clube estava à deriva, mas ainda conseguiu escapar da degola. Mas o Paulistão pífio deste ano, a Copa do Brasil horrorosa e o descenso no Brasileirão foram o chantilly e a cereja neste verdadeiro “bolo de lama”.

A desvalorização do clube como instituição ao transformá-lo em uma grande vitrine de jogadores (vide o caso de Christian, por exemplo), foi por vezes mais humilhante do que ver o Corinthians se arrastando no Brasileirão. O próprio Andrés Sanches, presidente após a queda de Dualib, tem sua parcela de culpa, pois também compactuou com a malfadada parceria. Portanto, ele tem o dever de reestruturar o clube e ajudar a conduzi-lo novamente até a elite do futebol nacional.


Esse atual elenco, apesar da grande limitação, não pode ser execrado. Dentro de seus pouquíssimos recursos, lutaram, correram e se dedicaram, mas não foi possível salvar o alvinegro. Como trunfos desse desastre, estão a descoberta de Felipe, ídolo maior de um time em pedaços, a lapidação de Moradei (que evoluiu bastante no campeonato) e o início de entrosamento da dupla Dentinho-Lulinha, que se bem trabalhada, pode dar muitas alegrias a Fiel. Fiel, que mais uma vez, fez seu papel com esplendor, carregando o time nos braços e incentivando-os até o derradeiro e melancólico fim.

Planejamento: está é a chave para o retorno alvinegro no ano que vem. Contratando bons jogadores, um treinador que conheça a Série B e com firmeza no comando diretivo, o Timão deve se espelhar no passado recente, vendo Palmeiras, Botafogo, Grêmio e Fluminense saírem das trevas em direção à luz, com muito trabalho e no campo. Até a Juventus italiana, que foi punida exemplarmente pelos seus erros, deu a volta por cima e está aí disputando a liderança do Calcio.

As vezes, realmente é preciso apanhar para sentir a dor e a culpa pelos nossos atos.

1.12.07

Fonte Nova, velhos problemas

Principal palco do futebol baiano, o Estádio Octávio Mangabeira (Fonte Nova), construído em 1951, será demolido.

O epísódio ocorrido na Fonte Nova nos mostrou algo comum as autoridades políticas, seja em qualquer esfera da sociedade: O Brasil é o país das medidas paliativas. Foi assim com a crise energética e dos aeroportos. E após a tragédia da Fonte Nova, onde morreram torcedores em decorrência das péssimas condições do estádio, o governo baiano decidiu por demolir o estádio e construir outro no mesmo local.

Mas a tragédia era perfeitamente previsível, pois havia sido feito um estúdio prévio, pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), que constatava que o principal estádio baiano era o pior do país, dentre os grandes palcos do futebol brasileiro. Infelizmente, atitudes só são tomadas após a perda de vidas, talvez a única coisa que sensibilize as autoridades.

O Brasil está há sete anos de sediar uma Copa Do Mundo, e na minha concepção, tem amplas condições de fazê-lo, desde que governo e organização caminhem juntos. Sincronizados. E que as obras estruturas dos estádios brasileiros sejam realizadas com urgência. Ou então, se a solução encontrada para os problemas desse tipo é demolir e construir outro no lugar, a construção civil vai ter bastante trabalho...